Folha de S.Paulo

Decreto anti-imigração pode ter alcance maior

Maioria dos vistos para EUA dos 6 países afetados não se encaixaria em nova exigência

- ISABEL FLECK

O perfil dos cidadãos dos seis países-alvos do decreto anti-imigração de Donald Trump deve tornar a decisão tomada pela Suprema Corte na segunda-feira (26) mais abrangente do que inicialmen­te pareceu.

Dados mais recentes do Departamen­to de Estado mostram que 79% dos 4.563 vistos de não-imigrante emitidos para cidadãos de Líbia, Iêmen, Irã, Síria, Somália e Sudão entre março e abril eram de turismo (B2) ou turismo e negócios (B1/B2) — categoria que pode ter mais dificuldad­e em provar “relação autêntica com uma pessoa ou entidade nos EUA”.

A Suprema Corte definiu que o decreto de Trump, proibindo temporaria­mente a entrada de cidadãos dessas nações de maioria muçulmana, poderia ser aplicado para os indivíduos que não conseguire­m comprovar tal relação.

Em casos de vistos de estudante, de intercâmbi­o ou de trabalho temporário, por exemplo, a ligação com uma instituiçã­o no país é mais difícil de ser contestada.

No caso do Irã, 82% dos vistos concedidos em março e abril foram de turismo ou turismo e negócios. Entre sírios, sudaneses e iemenitas, a emissão desses tipos de visto foi acima dos 77%.

“Se você é de um desses países e está tentando tirar visto porque quer passar férias em Nova York, mas não conhece ninguém nos EUA, agora certamente não vai ter esse visto”, diz Sirene Shebaya, membro da aliança Dulles Justice Coalition, criada para atender pessoas barradas no aeroporto de Dulles (Washington) pelo primeiro decreto de Trump, também suspenso pela Justiça.

Ela, contudo, observa que a negativa dependerá de cada situação e da rigidez com que o governo passará a aplicar a nova regra, a partir da próxima quinta-feira (29).

“Se você vem visitar sua mãe ou sua irmã que vivem nos EUA, vai pedir um visto de turista. E não esperamos que esse tipo de solicitant­e tenha problema”, afirma.

A ordem executiva determina que quem tivesse o green card ou um visto válido no dia da assinatura do decreto não seria afetado —logo, é mais provável que a aplicação do decreto tenha mais impacto na emissão de vistos e menos na chegada desses cidadãos com visto.

Mesmo assim, a organizaçã­o de Shebaya montou uma rede para atender e prestar apoio jurídico a indivíduos desses países que possivelme­nte sejam barrados nos aeroportos. “Não sabemos como essa ordem será implementa­da, então nos mobilizamo­s para estar presentes”, disse Shebaya.

Depois dos vistos de turista, os mais procurados são de estudante e de intercâmbi­o no caso do Irã, que soma 60% do total de documentos emitidos para os seis países.

No caso da Síria, segundo país com mais vistos do grupo, caiu o número de vistos de estudante expedidos em relação a 2016, e aumentou o de noivos e cônjuges de americanos, além do de membros de órgãos internacio­nais.

Para os grupos de defesa dos direitos dos imigrantes, os refugiados também poderão ser mais facilmente barrados. Para eles, também valerá a regra da “relação autêntica com uma pessoa ou entidade nos EUA”.

Segundo uma estimativa de organizaçõ­es citada pelo “New York Times”, quatro em cada dez refugiados que vão para os EUA não teriam nenhum laço familiar no país.

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Amr Alfiky - 26.jun.17/Reuters Ativistas fazem protesto contra decreto anti-imigração

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