Folha de S.Paulo

Google leva multa recorde de R$ 9 bi na UE, acusado de prejudicar rivais

Segundo europeus, mecanismo de busca da empresa favorece seu serviço de comparar preços

- DIOGO BERCITO

Decisão pode abrir novas frentes contra a companhia, que afirma discordar da decisão e que estuda recursos

O Google recebeu a multa recorde de € 2,4 bilhões (R$ 8,9 bilhões, pela cotação atual) da União Europeia acusado de favorecer ilegalment­e seu mecanismo de comparação de preços de produtos.

A decisão marca a primeira vez que uma importante autoridade regulatóri­a mundial pune a empresa americana pelo modo como ela opera, o que pode abrir precedente para novos casos.

Segundo as autoridade­s europeias, que iniciaram as investigaç­ões em 2010, o Google foi mudando a sua procura de tal modo que os principais concorrent­es só começavam a aparecer, em média, apenas na quarta página com os resultados da busca.

Enquanto isso, os produtos pesquisado­s pelo Google Shopping (como é conhecido o mecanismo) apareciam sempre no alto da primeira página das buscas.

Aparecer no topo é muito relevante nessa disputa. Segundo a UE, os dez primeiros links na primeira página da busca recebem 95% dos cliques dos usuários. Quem está na segunda página leva 1%.

O resultado dessa estratégia, segundo as autoridade­s europeias, é que o Google domina 90% desse mercado no bloco formado por 31 países.

No Reino Unido, por exemplo, o Google Shopping cresceu 45 vezes desde 2008. Na Alemanha, ele é 34 vezes maior que há nove anos.

O serviço é uma fonte de receita para o Google, já que o anunciante tem que pagar por cada clique que recebe. Assim, se um usuário procurar um celular pela busca da empresa e clicar no produto de uma das lojas sugeridas pelo Google, caberá a esse lojista pagar um valor à empresa.

Esse fluxo de visitas é essencial para várias empresas que, diferentem­ente do Google, são especializ­adas apenas nesse tipo de serviço.

“O Google abusou de seu domínio no mercado como mecanismo de busca ao promover seu próprio serviço nas buscas e minimizar os de com- Os sites de pesquisa de preço de concorrent­es do buscador têm destaque menor e por isso recebem menos visitas foi a queda de tráfego nos concorrent­es do buscador na Alemanha após mudança no algoritmo No Reino Unido, a queda foi de petidores”, disse Margrethe Vestager, comissária da UE responsáve­l pela investigaç­ão.

Agora a gigante americana tem 90 dias para interrompe­r as práticas considerad­as irregulare­s e um prazo de três meses para pagar os € 2,4 bilhões. É possível apelar a cortes europeias, mas a multa seguirá em vigor até que haja uma decisão contrária.

Caso o Google não cumpra a decisão, terá que pagar novas multas de até 5% de sua receita diária —algo em torno de US$ 12 milhões.

O valor de € 2,4 bilhões foi calculado, de acordo com o “Financial Times”, com base em até 30% do faturament­o do Google Shopping multiplica­do pelos anos em que houve a irregulari­dade. A multa poderia chegar no máximo a 10% da receita da companhia americana, ou € 9 bilhões.

Como o Google tem US$ 90 bilhões em caixa, o impacto da multa é pequeno nas operações da empresa americana. Mais importante é se novas punições se seguirão (outros serviços estão sendo investigad­os pela Europa, como mapas e preços de viagens) e se terá que mudar drasticame­nte o modo como opera, o que pode ter efeito importante na sua receita.

O Google é acusado, em outro caso, de utilizar seu sistema operaciona­l Android para prejudicar rivais. É esperado que a Comissão Europeia (braço executivo da União Europeia) mantenha a linha dura também nessa acusação. Além disso, o serviço de publicidad­e on-line AdSense também é investigad­o.

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Emmanuel Dunand/AFP Margrethe Vestager, responsáve­l pela investigaç­ão da UE

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