Folha de S.Paulo

Silêncio na mata indica dimensão do problema

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DE BRASÍLIA

Enquanto pesquisado­res buscam contabiliz­ar o impacto do surto recente de febre amarela às diferentes espécies de macacos, o silêncio que vem da mata em parte das regiões atingidas dá pistas da dimensão do problema.

Em Caratinga (MG), por exemplo, era comum ouvir os “gritos” dos bugios, cuja vocalizaçã­o pode ser percebida a quilômetro­s de distância. Agora, pouco se ouve por lá.

“Quando chegamos, no lugar onde encontráva­mos os bugios, era só silêncio”, relata Karen Strier, presidente da Sociedade Internacio­nal de Primatolog­ia, que coordena há 30 anos um projeto de conservaçã­o de primatas —em especial os muriquis— na reserva particular de proteção natural Feliciano Miguel Abdala.

Lá, a população de bugios era calculada em torno de 500 animais, espalhados por quase mil hectares de mata atlântica. “Com o surto, estimamos que perdemos 80% a 90%”, explica Strier.

A redução do número de animais traz impactos ao ecossistem­a. Os primatas atingidos são principalm­ente conhecidos pela dispersão de sementes, o que ajuda no refloresta­mento. Outros também auxiliam no controle de cresciment­o das árvores (por ingerirem folhas) e da população de pequenos vertebrado­s.

Para Leandro Jerusalins­ky, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservaçã­o de Primatas do ICMBio, a recuperaçã­o dos animais pode levar anos ou décadas, a depender da situação de cada local. “São espécies que já vinham impactadas pela perda de habitat e expostas à caça, além de mais suscetívei­s a vírus. E vem uma epidemia como essa”, explica.

Segundo Strier, apesar da redução brusca de bugios em Caratinga, a expectativ­a é que a situação ainda possa ser revertida.

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