Folha de S.Paulo

Falo. Mas desde que saí da CBF nunca fui lá. Acho que já passei tempo suficiente lá.

- SÉRGIO RANGEL

DORIO

Suspeito de ter recebido propina para ajudar a eleger o Qatar como sede da Copa do Mundo de 2022, Ricardo Teixeira, 70, chamou de “não conclusivo” o “Relatório Garcia”, divulgado nesta terça-feira (27) pela Fifa. Apesar de ter declarado que não leu o documento, o ex-presidente da CBF disse que o relatório de mais de 300 páginas “só levanta suspeitas”. O cartola brasileiro já é réu nos EUA e investigad­o na Espanha

Em entrevista à Folha, ele descartou a possibilid­ade de seguir outros cartolas e fazer uma delação premiada nos Estados Unidos.

“Não existe esse acordo. É ridículo dizerem que telefonei para o Sandro [Rosell, expresiden­te do Barcelona, preso na Espanha acusado de dividir propina com o brasileiro] combinando um lugar para morar. Quero ver a gravação”, afirmou, por telefone.

Teixeira é acusado pelo FBI e pela Justiça da Espanha de receber propina na venda dos direitos da seleção e de torneios no Brasil e no continente.

O cartola vive atualmente no Rio e disse que não pretende deixar o Brasil.

“Tem lugar mais seguro que o Brasil? Qual é o lugar? Vou fugir de quê, se aqui não sou acusado de nada? Você sabe que tudo que me acusam no exterior não é crime no Brasil. Não estou dizendo se fiz ou não”, acrescento­u. Folha - O senhor foi apontado no relatório divulgado nesta terça pela Fifa como beneficiár­io de uma série de favores e é suspeito de corrupção na escolha da Copa do Qatar? O senhor recebeu dinheiro mesmo...

Ricardo Teixeira - Repito o que disse há três anos. O voto no Qatar foi um acerto dos sul-americanos para apoiar a candidatur­a conjunta da Espanha e Portugal [ao Mundial de 2018]. No acordo, o Qatar daria os votos dos eleitores deles para a Espanha, que acabou ficando em segundo. Em troca, daríamos os nossos para o Qatar. Não teve dinheiro nem confusão com a CBF. A única pessoa envolvida nessa eleição fui eu [Teixeira era um dos 23 integrante­s do Comitê Executivo da Fifa, que escolheu os países-sedes ao Mundiais de 2018 e 2022].

O preço do jogo que fizemos no Qatar com a Argentina foi literalmen­te o mesmo do contrato dos outros jogos. O contrato era de US$ 1,15 milhão. Mas recebi apenas US$ 800 mil porque a empresa dona dos direitos da seleção tinha me antecipado US$ 8,5 milhões na assinatura do contrato. Como estava ruim de grana, sempre estamos ruim de grana [risos], a empresa me antecipou esse valor em 2006 e diminuiu esse valor da cota individual dos jogos. Tenho o depósito e toda a documentaç­ão disso. O senhor é acusado de receber dinheiro de uma empresa do Sandro Rosell com sede em Nova Jersey...

Não, sempre assinamos com a empresa da Suíça. O Sandro [Rosell] nunca teve um contrato assinado com a CBF. Zero. Não existe contrato da CBF com o Sandro. Voltando ao Qatar, fizemos o acordo e quase a Espanha ganhou. Essa foi a história do Qatar. Alguma vez, algum país me deixou de fora de uma suíte principal? O relatório diz que a candidatur­a que pagou a hospedagem do senhor. Foi isso?

Esse negócio é tão ridículo. Me recuso a responder. Deixa eu fazer uma pergunta simples. Quando, por exemplo, a Inglaterra vem jogar aqui, quem vai pagar a hospedagem no Copacabana Palace do presidente da federação? A CBF vai pagar. Mas lá foi o comitê de candidatur­a de Qatar. A Fifa não permite isso. Esse procedimen­to viola o Código de Ética.

Qual é a diferença que faz federação do Qatar do governo? Lá tem um dono só. Estou mentindo? Quem pagou? Sei lá quem pagou. Com toda a honestidad­e, você quer ser mais realista que o rei? O senhor continua trabalhand­o no futebol ou se aposentou?

Estou cansado de futebol. Tenho que cuidar da minha saúde. Sou um cara pela metade. Não tenho rim, pedi emprestand­o ao meu irmão. Não posso brincar. Já tenho 70 anos de idade. O senhor negocia uma delação com a Justiça dos EUA?

Não existe esse acordo. É ridículo dizerem que telefonei para o Sandro [Rosell] combinando um lugar para morar [investigaç­ão na Espanha informou que o brasileiro consultou o ex-presidente do Barcelona sobre uma opção de “lugar seguro” para fugir caso autoridade­s fechassem o cerco contra ele]. Quero ver a gravação dessa conversa. Tem lugar mais seguro que o Brasil? Qual é o lugar? Vou fugir de quê, se aqui não sou acusado de nada? Você sabe que tudo que me acusam no exterior não é crime no Brasil. Não estou dizendo se fiz ou não. O senhor tem relação com o Marco Polo Del Nero?

Estou cansado de futebol. Tenho que cuidar da minha saúde. Sou um cara pela metade. Não tenho rim, pedi emprestand­o ao meu irmão. Não posso brincar. Já tenho 70 anos “mais seguro que o Brasil? Qual é o lugar? Vou fugir de quê, se aqui não sou acusado de nada? Você sabe que tudo que me acusam no exterior não é crime no Brasil

O senhor acha que ele faz um bom trabalho?

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