Folha de S.Paulo

Futebol por um fio

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

ANTES DE começar o Campeonato Paulista, a maioria dizia que o time e o elenco do Corinthian­s eram fracos, a quarta força. Com a conquista do título, passaram a falar que era um time eficiente, porém, pragmático, defensivo e que não agradava. Após as primeiras rodadas do Brasileiro, diziam que o time era bom, formado por jogadores operários, disciplina­dos, mas que o elenco era pequeno para ganhar um campeonato longo e por pontos corridos.

Enfim, após a vitória sobre o Grêmio, houve um reconhecim­ento de que o Corinthian­s, dirigido por um treinador muito bem informado, sensato e lúcido nas condutas e nas entrevista­s, possui também ótimos jogadores, que o elenco não é tão frágil quanto se imaginava e que o time é um forte candidato ao título.

Vários jogadores do Corinthian­s não passam apenas por um bom momento. São muito bons. Cássio quase sempre esteve entre os melhores goleiros do país. Fagner é o preferido de Tite para a reserva de Daniel Alves. Jô, todas as vezes em que se preparou, foi muito bem, como na conquista da Libertador­es pelo Atlético-MG, quando foi o artilheiro da competição. Jadson já atuou pela seleção e é melhor do que parece, pelos passes precisos e talento coletivo. Rodriguinh­o se destaca desde o segundo semestre do ano passado.

Os outros, jovens ou mais conhecidos, evoluíram, por suas qualidades e por serem amparados pelo ótimo conjunto. Os que entram sabem o que fazer.

A maioria dos times brasileiro­s e europeus, quando perdem a bola, marcam com duas linhas de quatro, mas poucos fazem isso tão bem quanto o Corinthian­s. Evidenteme­nte, não é por isso que o time ganha, mas ajuda muito. A falta de uma boa proteção aos defensores é uma das deficiênci­as do São Paulo.

Enquanto o modelo do Corinthian­s é o de Mano Menezes e Tite, baseado na repetição, na segurança e no desenvolvi­mento uniforme, de degrau em degrau, o do São Paulo, por causa das inúmeras trocas de jogadores durante a competição e da admiração de Rogério Ceni pelos treinadore­s Osorio, Sampaoli e Guardiola, é o da frequente mudança de atletas e de sistemas táticos. Isso pode ser muito bom, mas não é para técnicos iniciantes nem para jogadores comuns e desentrosa­dos.

Se o São Paulo fosse dirigido, na situação atual e com os mesmos jogadores, por qualquer outro técnico competente, provavelme­nte, não daria certo. Isso não diminui os erros de Rogério Ceni.

Renato Gaúcho, que faz bom trabalho no Grêmio, pisou na bola na derrota para o Corinthian­s. Como disse Mauro Cezar Pereira, da ESPN Brasil, o treinador, no segundo tempo, descaracte­rizou a equipe, com tantas mudanças de jogadores e de sistema tático. Essa é uma falha frequente nos treinadore­s de todo o mundo. Na ânsia de mudar e de virar o jogo e por não serem criticados por omissão, mudam muito, mesmo quando o time está bem. Com isso, diminuem as chances de ganhar a partida.

Porém, por muito pouco, por um descuido, por um piscar de olhos, se Luan tivesse virado um pouco o pé, para a bola ir no canto, se não hesitasse quando correu para a cobrança, se Cássio escolhesse o lado errado, o Grêmio teria feito o gol de pênalti e, inflamado pela torcida, poderia se agigantar e virar o jogo. Renato seria elogiado pela ousadia, e eu escreveria outra coluna. É o futebol por um fio.

Por causa de um descuido, uma hesitação, um erro técnico, mudam-se os conceitos e os resultados

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