Folha de S.Paulo

Leitor é coautor em ‘livro-site’ de dramaturgo­s que investigam novas formas de fazer literatura

- MARIANA MARINHO

“Todas as palavras que foram escritas serão apagadas. Todas as fotos vão desaparece­r. Todos os áudios serão silenciado­s. Só vai sobrar o que você conseguir guardar aqui. A memória do mundo é a memória de um site”. No caso, do projetohip­ertexto.com.br.

Lançada nesta quarta (28), a plataforma é um “livro-site” pensado pelos dramaturgo­s Gustavo Colombini, 26, e João Dias Turchi, 28.

Eles partem da narrativa fictícia —na qual o conteúdo produzido pela humanidade entra em colapso por não caber mais no armazename­nto de uma nuvem— para pensar novas formas de lidar com a leitura, a emissão, a recepção e a distribuiç­ão de um texto.

“É uma ideia de sítio arqueológi­co do futuro”, explica Turchi, que trabalha com Colombini desde 2013 quando criaram o Cinza, coletivo de investigaç­ão de escrita, seja ela literária ou teatral.

Juntos, eles já montaram espetáculo­s como “Planta”, realizado no Minhocão em 2013, e escreveram “Histórias para Serem Lidas em Voz Alta” (2014), publicação independen­te que investiga os limites entre literatura e dramaturgi­a.

No “projetohip­ertexto”, o leitor torna-se coautor da história. Ao clicar em palavras em hiperlink, ele é redirecion­ado, de forma aleatória ou pré-determinad­a pelos autores, para uma nova página, que pode conter um vídeo, uma foto, um áudio ou um trecho escrito.

Parte do conteúdo, que dialoga com questões ligadas à memória e às relações cotidianas, foi criada pela dupla; outra acabou sendo encontrada na própria internet.

“Procuramos no YouTube, por exemplo, por vídeos de zero a cinco visualizaç­ões. É como se eles tivessem sido postados para não serem vistos”, comenta Colombini.

Para ele, o interessan­te é a falta de controle que os dois têm como autores. “Cada usuário pode ter uma leitura diferente. Depende de onde o leitor clica e de quanto tempo ele fica na página”, afirma. Por enquanto, há uma média de 500 posts. “Mas a ideia é seguir alimento a plataforma. É um caminho sem fim”, completa.

A pesquisa do “livro-site” também se desdobrou em outras propostas: uma ação realizada no CCSP (1º, 2, 8 e 9/7, das 14h às 18h), na qual duas pessoas são convidadas a conversar por escrito, mesmo estando num mesmo ambiente; e um “podtext”. Por meio deste, participan­tes recebem mensagens audiovisua­is diárias em seu WhatsApp —cerca de 200 já integram a rede.

“Entramos no espaço íntimo que é o celular e criamos uma narrativa”, diz Turchi.

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Reprodução Página do ‘livro-site’ ‘projetohip­ertexto’, projeto que os dramaturgo­s Gustavo Colombini e João Dias Turchi lançam hoje

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