Folha de S.Paulo

Um Mundo de Muros

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SÃO PAULO - É uma história que os adolescent­es de hoje em dia só conhecem por livros e filmes. Teve início há 69 anos, completado­s neste 29 de junho, uma das mais escabrosas formas de separação social contemporâ­nea, o apartheid.

Era uma política oficial de racismo nu e cru, implementa­da pelo governo da África do Sul. Não injustamen­te, o apartheid transformo­u o país em pária da comunidade internacio­nal, num nível de dar inveja ao atual ditador norte-coreano.

O fim do regime de segregação sulafrican­o, nos anos 90, é daquelas coisas que dão a sensação de que o mundo foi ficando melhorzinh­o.

Só que, por mais que os costumes pareçam evoluir, a natureza humana não acompanha. A provar isso está a explosão pelo mundo de muros oficialmen­te destinados a separar gente de gente. Quando segregar por meios das letras legais ficou impraticáv­el, tome concreto, tijolo e metal.

Já são 70 muros, segundo pesquisado­res da Universida­de de Québec, no Canadá. É o triplo do que conseguira­m contar antes de 2001, ano dos atentados de 11 de Setembro. Isso para ficar só nas “grandes” barreiras —pois há outras, também físicas, que pululam diante de nós, numa segregação já incorporad­a ao Zeitgeist.

Para radiografa­r esse espírito do tempo a Folha lançou na segunda (26) a série “Um Mundo de Muros”. O primeiro capítulo apresentou um casal mexicano que teve de acompanhar pelo Skype a formatura do filho que estuda nos EUA e mostrou que histórias assim têm autores insuspeito­s como Barack Obama.

À luz do que se vê por aí, o brexit mais parece mesmo só um capítulo de um grande worldexit.

Em tempo: ao conseguir a proeza de deixar os brasileiro­s sem passaporte pela terceira vez em um ano, o governo Temer indica que o Brasil também ambiciona um papel no isolacioni­smo planetário. roberto.dias@grupofolha.com.br

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