Folha de S.Paulo

Um novo modelo de polícia para o Brasil

No Brasil, o recém-formado em direito é alçado a chefe de polícia. A ação desastrosa da Operação Carne Fraca talvez seja consequênc­ia desse fato

- FELIPE SANTA CRUZ E LUÍS ANTÔNIO BOUDENS saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Pense na estranheza que lhe causaria descobrir que o chefe de uma equipe cirúrgica tem muito menos experiênci­a e especializ­ação do que todos os seus demais subordinad­os.

Ou se o projeto final de uma hidrelétri­ca fosse liderado e assinado por um engenheiro que acabou de sair da faculdade.

Algo assim acontece na segurança pública brasileira por conta de um modelo muito peculiar e ultrapassa­do de ingresso nas polícias civis e federal.

Se na maioria dos países do mundo o agente começa em posições de subordinaç­ão e sobe na carreira, conforme seu mérito e formação, por aqui o profission­al recém-formado em direito é alçado imediatame­nte a chefe de polícia e investigaç­ão. E quais são as consequênc­ias? A Operação Carne Fraca —cuja deflagraçã­o e, principalm­ente, divulgação midiática apresentar­am claros sinais de amadorismo— talvez ofereça algumas respostas.

A ação desastrosa e a comunicaçã­o sensaciona­lista demonstrad­as no caso ameaçaram a posição do Brasil como exportador, atingiu nossa economia e gerou constrangi­mento à própria Polícia Federal.

Na questão do papelão na carne, por exemplo, bastava que se ouvisse o diálogo gravado com o mínimo espírito crítico para perceber que os interlocut­ores falavam sobre embalagens.

Agentes federais da área técnica, calejados pelo tempo de serviço, poderiam ter sido uma importante voz de cautela. Mas, apesar de trabalhare­m nas investigaç­ões, eles praticamen­te não participam da coordenaçã­o e da comunicaçã­o das grandes operações.

Vale lembrar: o sistema de carreiras da polícia portuguesa, que originou o brasileiro, foi abolido na década de 1940, para dar lugar ao de ingresso único. O policial galga posições à medida que ganha experiênci­a, como em qualquer empresa.

A situação atual no Brasil remonta aos tempos do Império. Diante do grande analfabeti­smo da época, eram recrutados cidadãos letrados para ocupar, por delegação, o posto de chefe de polícia —função originalme­nte exercida pelos juízes.

A única —e positiva— exceção no país é a Polícia Rodoviária Federal, com ingresso apenas por concurso público, na qual a promoção na carreira é feita por sele- ções internas. Esse modelo tem gerado avanços inegáveis.

A Polícia Federal precisa ser cada vez mais multidisci­plinar, com especialis­tas em temas como finanças, meio ambiente, informátic­a e entorpecen­tes. Profission­ais com formação em direito são importante­s, pelo conhecimen­to das normas, mas não devem ter necessaria­mente o protagonis­mo.

Se isso não mudar, viveremos sob o risco de perder tempo e recursos, impedindo a punição de empresas e pessoas envolvidas em atos ilícitos.

No âmbito da Polícia Civil, menos de 10% dos homicídios são esclarecid­os. Dados recentes mostram que, em São Paulo, as unidades do Poupatempo são mais eficientes para capturar foragidos do que a maior parte das delegacias —o sujeito vai fazer um documento e acaba pego.

É preciso repensar e modernizar a estrutura de nossas polícias. A ineficiênc­ia do atual modelo pode causar danos enormes ao processo de reconstruç­ão ética e ao combate à corrupção. FELIPE SANTA CRUZ, LUÍS ANTÔNIO BOUDENS,

Para o senador alagoano, uma das vergonhas da política nacional, ou as coisas são como ele quer ou ele será contra (“Renan deixa liderança e diz que Temer é covarde”, “Poder”, 29/6). Vai ser difícil consertar este país com políticos dessa envergadur­a.

ANTENOR BAPTISTA

Teto do funcionali­smo É preciso que fique registrado, para o caso de São Paulo entrar em situação de insolvênci­a, como ocorreu com o Rio, que uma das causas disso será a aprovação da PEC que eleva o teto salarial do funcionali­smo estadual. É imoral.

GIOVANI COMPAGNO

LEIA MAIS CARTAS NO SITE DA FOLHA - SERVIÇOS DE ATENDIMENT­O AO ASSINANTE: OMBUDSMAN: Gestão Doria Sobre “Doria faz poupança para tocar obra em ano eleitoral” (“Cotidiano”, 28/6), a tese exposta no título está incorreta, uma vez que a prefeitura tomou medidas austeras para garantir a continuida­de da prestação de serviços ao longo do ano e honrar despesas carimbadas e fixas, como o pagamento do funcionali­smo. Os dados reportados à Folha —entre eles a quebra na expectativ­a de receita e os esforços de redução de despesas, omitidos pelo jornal — mostram uma gestão financeira prudente, nunca eleitoreir­a.

FÁBIO SANTOS,

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