Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Câmara não quer apressar rito de denúncia

Planalto prefere unificar todas as acusações que serão feitas pela Procurador­ia, mas comando da Casa resiste

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Temer foi notificado na tarde desta quinta para que apresente sua defesa sobre a denúncia de corrupção passiva

A Câmara dos Deputados recebeu às 9h28 desta quinta (29) a denúncia criminal contra Michel Temer por corrupção passiva e deu sinais de que não deve ceder à pressão do Planalto para encurtar o desfecho do caso.

Aliados do presidente defendem uma única votação para analisar essa e outras prováveis acusações a serem apre- sentadas pela Procurador­iaGeral da República. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o presidente da Comissão de Constituiç­ão e Justiça, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), porém, apontaram que cada denúncia deve ser votada separadame­nte.

Esse é o cenário defendido pela oposição, que acredita que Temer deve sair vitorioso nesta primeira votação. A expectativ­a desses partidos é que o desgaste contínuo do presidente possibilit­e êxito nas denúncias seguintes.

Substituto imediato de Temer, Maia indicou aos principais caciques de seu partido e à oposição que não fará manobras que possam benefici- ar o presidente. Em jantar com dirigentes do DEM na quarta-feira (29), ele disse que um estudo preliminar da área técnica da Câmara aponta que não será possível unificar as várias denúncias.

Participan­tes desse encontro relataram que há consenso de que não há espaço para movimentos que possam ser contestado­s no STF (Supremo Tribunal Federal).

“Isso vai ser um debate republican­o. A instituiçã­o precisa ser preservada. Aqui não é para defender nem a posição do presidente, nem a posição da oposição, nem da PGR. É para respeitar o rito e a democracia” disse Maia em entrevista, afirmando ser muito difícil a Câmara unir em uma votação isolada peças separadas pela Procurador­ia e o Judiciário.

A pedido de Janot, o STF dividiu ao meio o inquérito instaurado em maio para investigar Temer. A cisão serve justamente para que a PGR ganhe tempo para preparar uma eventual nova denúncia contra o presidente, desta vez sob acusação de tentar atrapalhar as investigaç­ões. NOTIFICAÇíO Temer foi notificado na tarde desta quinta para que apresente sua defesa sobre o a denúncia de corrupção passiva. O primeiro-secretário da Câmara, Fernando Giacobo (PR-PR), entregou o documento ao subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, no Planalto.

A denúncia já foi enviada à CCJ, que dará parecer sobre o caso. A palavra final caberá ao plenário. É preciso o apoio de pelo menos 342 dos 513 parlamenta­res para que o STF seja autorizado a analisar a denúncia.

O governo trabalha para votar o caso em plenário na semana do dia 19 de julho. Para isso, Temer não deve usar o prazo máximo de dez sessões para apresentar sua defesa.

Cabe ao presidente da CCJ indicar o relator. Temer quer emplacar na função Alceu Moreira ou Jones Martins, ambos do PMDB gaúcho, ou Laerte Bessa (PR-DF). Ambos são seus aliados.

Apesar de também ser do PMDB, o presidente da CCJ quer disputar o governo de Minas em 2018 e foi preterido pelo Planalto na escolha do ministro da Justiça no início de março. Ele tem afirmado que não aceitará interferên­cia do governo e que escolherá um deputado de perfil independen­te. Outros cotados são Marcos Rogério (DEM-RO), Sergio Zveiter (PMDB-RJ), Esperidião Amin (PP-SC) e José Fogaça (PMDB-RS), todos de partidos aliados ao Planalto. (RANIER BRAGON, DANIEL CARVALHO, BRUNO BOGHOSSIAN E ANGELA BOLDRINI)

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