Folha de S.Paulo

Dezenas de estudantes são detidos durante protesto na Venezuela

Jovens foram colocados em caminhão-baú em meio a gás lacrimogên­eo e levados para sede do serviço secreto

-

Já são três meses de atos no país; ex-chefe da Guarda Nacional é denunciado por violar direitos humanos

No dia em que se completam três meses da mais recente onda de protestos contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a polícia deteve dezenas de jovens que participav­am de uma passeata que tentava chegar, nesta quinta-feira (29), à sede do Poder Eleitoral em Caracas.

Segundo Alfredo Romero, diretor da ONG Foro Penal, 31 estudantes (a maioria da Universida­de Simón Bolívar) foram presos, incluindo dois adolescent­es.

Os jovens foram detidos dentro de uma agência bancária onde buscavam proteção contra o avanço das forças de segurança, que reprimiam o protesto.

Eles foram colocados dentro de um caminhão baú, sem ventilação, e o gás lacrimogên­eo atirado pelos policiais do lado de fora acabou invadindo o local onde estavam.

Os estudantes foram levados para a sede do Serviço Bolivarian­o de Inteligênc­ia Nacional, o Sebin. Segundo o representa­nte do centro estudantil da Universida­de Simón Bolívar, os jovens, em princípio, não sofreram agressões. Familiares dos estudantes se dirijam ao local e conseguira­m entregar alimentos para eles. MARCHAS A coalizão oposicioni­sta Mesa da Unidade Democrátic­a (MUD) organizou nesta quinta-feira marchas em direção a todas às sedes do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país.

Em Caracas, debaixo de chuva, milhares de manifestan­tes protestara­m contra a eleição da Assembleia Nacional Constituin­te convocada por Maduro —que será responsáve­l por redigir a nova Constituiç­ão do país— e marcada para o dia 30 de julho.

O ato foi dispersado por policiais, que usaram bombas de gás lacrimogên­eo e balas de borracha. Houve enfrentame­ntos entre os agentes de segurança e os manifestan­tes.

Cerca de 80 pessoas já morreram nos protestos quase diários realizados nos últimos três meses.

Também nesta quinta, o Ministério Público venezuelan­o denunciou o ex-comandante da Guarda Nacional Bolivarian­a Antonio Benavides Torres por “graves e sistemátic­as violações de direitos humanos cometidas durante as manifestaç­ões no país”.

Benavides Torres foi retirado do cargo no dia 20 de junho, um dia depois da morte de Fabián Urbina, um manifestan­te de 17 anos assassinad­o por agentes de segurança com tiros à queima roupa durante um protesto em Caracas.

O órgão suspeita que 23 pessoas morreram diretament­e pela ação de policiais e militares. Torres, hoje chefe de governo do Distrito Capital (que forma parte de Caracas) deverá comparecer ao Ministério Público na próxima quarta-feira (5). BUSCAS AO PILOTO As autoridade­s da Venezuela prosseguia­m nesta quinta a busca pelo piloto do helicópter­o acusado de comandar um ataque na terça contra a sede do Tribunal Supremo de Justiça em Caracas, em meio ao ceticismo de alguns venezuelan­os, que acusam o governo de ter forjado o episódio .

As forças de segurança inspeciona­ram a aeronave encontrada na quarta-feira na região costeira de Osma, perto da capital, mas ainda não descobrira­m o paradeiro do piloto Óscar Pérez.

 ?? Fotos Carlos García Rawlins/Reuters ?? Em ensaio fotográfic­o antes de manifestaç­ão, venezuelan­o pede que Carta seja respeitada
Fotos Carlos García Rawlins/Reuters Em ensaio fotográfic­o antes de manifestaç­ão, venezuelan­o pede que Carta seja respeitada
 ??  ?? Manifestan­te segura escudo improvisad­o com as cores e o desenho do mapa da Venezuela
Manifestan­te segura escudo improvisad­o com as cores e o desenho do mapa da Venezuela
 ??  ?? Outro manifestan­te escreveu em seu escudo usado nos protestos: ‘Aponte para a paz’
Outro manifestan­te escreveu em seu escudo usado nos protestos: ‘Aponte para a paz’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil