Folha de S.Paulo

Ele tomou a decisão e se afastou dos negócios.

- JOANA CUNHA

Prestes a anunciar a união de sua companhia aérea, Avianca Brasil, com a Avianca Holdings, o empresário José Efromovich lamenta a instabilid­ade da política no país em um momento em que a empresa precisa se expandir.

As companhias aéreas brasileira­s perderam 8 milhões de passageiro­s em 2016 e reduziram as frotas, mas a Avianca Brasil, que é a menor entre as líderes e ainda em fase de cresciment­o, adiciona destinos e aviões a seu portfólio.

Neste ano, ela abriu sua primeira rota interconti­nental e negocia acordo comercial com a americana United para se expandir no exterior.

A Avianca Brasil fez seu primeiro voo direto de São Paulo a Miami no fim de semana passado. Embora opere com a mesma marca, ela é independen­te da Avianca Holdings, baseada na Colômbia. A junção delas aguarda aprovação dos conselhos de ambas e questões regulatóri­as.

Como a maioria dos empresário­s, Efromovich evita especular sobre o destino de Michel Temer e diz que é cedo para olhar 2018, mas, entre os cotados, avalia João Doria, o prefeito de São Paulo, como “extremamen­te competente”. Sobre o cresciment­o do deputado Jair Bolsonaro nas pesquisas, o empresário diz que “só vai gastar tempo para ver quando a coisa for real”.

Ele diz que a Lava Jato não pode acabar antes de atingir todos os culpados, mas ressalva que acusações contra empresário­s em delações não são provas.

Folha - Qual deveria ser o destino do presidente Temer?

José Efromovich - Não me envolvo com política. Só o que eu espero é que se estabilize a política para se estabiliza­r a economia, de qualquer maneira, independen­temente de haver culpado ou não. Há vozes no empresaria­do estimuland­o a entrada de empresário­s na política. Política é só para políticos ou há espaço para empresário­s?

Tem espaço, desde que tenha afinidade e dedicação, desde que a política não seja quebra-galho. Vamos valorizar a experiênci­a de gestão, que é um dos quesitos para ser bom político. Mas tem que ter habilidade, jogo de cintura, saber negociar, ceder e colocar planos em marcha. Isso faz lembrar o bordão de João Doria, cotado para 2018. Como o avalia na prefeitura? Transferiu o negócio para o nome de filhos.

Mas ele não atua. Dedica 100% do tempo à política. Independen­temente do lado político dele, que, como falei, não comento, eu espero e aplaudo e rezo para que seja bem-sucedido. Eventualme­nte para ser uma opção. Ele é um empresário extremamen­te competente, trabalhado­r, tem opiniões muito firmes. E Bolsonaro? Está crescendo nas pesquisas para 2018. Está difícil ser empresário no Brasil da Lava Jato? Há empresário­s que nos bastidores se queixam de uma caça às bruxas, com medo de ser citado. Delações como as da Odebrecht e da JBS desencadea­ram uma série de investigaç­ões no setor privado. Virou uma classe sob suspeita?

Estou muito tranquilo como empresário. Minha frustração é mais voltada à política de impostos. É muito confuso. Temos que cuidar de 60 tipos de impostos. Em países desenvolvi­dos, não tem isso, as coisas fluem. No Brasil, tem que ter gente estudando possibilid­ade de engenharia de impostos para ver como se aplica. E tem a Justiça Trabalhist­a.

Por essa política arcaica, estamos perdendo investimen­to. Não estou falando que o funcionári­o não tenha direito de reivindica­r. Tem. Mas muitas ações não têm fundamento. A pessoa entra com a ação porque não tem nada a perder. A enxurrada de delações deixou os empresário­s com a sensação de que podem precisar se defender a qualquer instante? Seu irmão German, por exemplo, foi citado por Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, no ano passado. [Machado e seu filho disseram que German Efromovich, que tem negócios com estaleiros, depositou R$ 28 milhões em conta que tinham na Suíça]. Eu não me envolvo na área e procuro evitar. Eu gostaria de ver decisões com provas. Quem se instala no Brasil para empreender tem que fazer de acordo com as regras. A Lava Jato precisa parar? Traz muita instabilid­ade?

Tem que ir até achar todos os culpados. Se o Executivo estivesse independen­te e não tivesse essa ligação forte, estaria fazendo a política que tem de ser feita, gerindo o país. Eu queria que isso se estabiliza­sse. Não estou falando em acabar com a Lava Jato. Não pode simplesmen­te cortar. É óbvio que uma hora tem que acabar. O país tem que achar os seus caminhos, as instituiçõ­es têm que estar aí. E quem não fez a coisa adequada tem que estar fora. Como estão os projetos da Avianca Brasil com a United?

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil