Folha de S.Paulo

Pública à Prodesp.

- ROGÉRIO PAGNAN JÚLIA BARBON

DE SÃO PAULO

O governo de São Paulo vai relançar seu principal sistema de segurança, que ainda não funciona como prometido, mesmo depois de quase três anos de sua apresentaç­ão oficial e cerca de R$ 30 milhões envolvidos.

O programa, batizado de Detecta e importado de Nova York, foi anunciado em 2014 durante a campanha de reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) como a mais moderna ferramenta de combate ao crime no mundo.

“O que existe de mais avançado em segurança pública”, afirmava a propaganda tucana que, na época, sofria críticas da oposição pela série de aumentos de roubo.

A principal inovação tecnológic­a era o conjunto de câmeras inteligent­es (analíticas) capazes de identifica­r atitudes suspeitas e avisar a central da Polícia Militar para envio rápido de uma patrulha.

A peça publicitár­ia mostrava que os aparelhos emitiriam um alerta à PM automatica­mente quando um homem de capacete, por exemplo, entrasse numa loja.

Até hoje, porém, nada disso funciona. E está longe de funcionar, segundo técnicos do próprio governo, mesmo na futura versão do programa que será lançada —eles dizem ser algo tecnologic­amente inviável.

Procurada, a gestão Alckmin disse, em nota, que “todas as funcionali­dades previstas no Detecta estão em funcioname­nto” (leia texto nesta página).

Já foram investidos cerca de R$ 30 milhões no sistema. Esse valor envolve tanto a sua compra, paga pela estatal Prodesp (Companhia de Processame­nto de Dados de SP) à Microsoft e a outros fornecedor­es, quanto os custos de sua utilização, pagos pela Secretaria da Segurança NOVA VERSÃO O novo Detecta deve começar a operar em 31 de julho, e policiais já estão sendo treinados, segundo o Estado. A versão comprada em 2014, por R$ 9,8 milhões, será abandonada após uma série de falhas.

Apenas alguns códigos foram aproveitad­os pela Prodesp para desenvolve­r o novo projeto. Ao contrário do anterior, que precisava de instalação no computador, ele funciona em plataforma on-line.

Integrante­s do governo fazem um analogia para explicar a mudança: criaram um novo carro, aproveitan­do o motor do carro antigo.

Um dos problemas desse “carro antigo”, segundo auditoria feita pelo Tribunal de Contas do Estado em 2015 e 2016 e divulgada neste mês, era que ele funcionava apenas em sistemas Microsoft, enquanto os computares da Polícia Civil utilizavam Linux.

“Diante de um investimen­to dessa magnitude, percebese que não houve uma preocupaçã­o em se testar a Solução [Detecta] antes da efetivação do contrato.”

O relatório também diz que a principal ferramenta divulgada por Alckmin sequer havia sido comprada. “O vídeo analítico, considerad­o de alta prioridade, [...] não estava funcionand­o. A Prodesp informou que o Detecta não possuía essa funcionali­dade e seria objeto de nova contrataçã­o.”

O governo paulista diz agora que a Microsoft doou esse recurso ao Estado. Técnicos, porém, ainda tentam fazê-lo funcionar como prometido.

Em demonstraç­ão feita pela Secretaria da Segurança à Folha na última semana, todos os testes com vídeo analítico no novo Detecta falharam.

Alertas para “veículo em situação suspeita”, por exemplo, indicavam que um carro estava estacionad­o na marginal Tietê, porém se referiam apenas à sombra de um poste em parte da via.

Com as atuais funções, o Detecta serve mais como ferramenta de investigaç­ão, registrand­o a passagem de carros por câmeras que leem placas e cruzando informaçõe­s de diferentes bases de dados. 2 DADO É COLETADO 3 INFORMAÇÕE­S SÃO CENTRALIZA­DAS Também integra dados de: > Identidade (como RG e CNH) > Desapareci­dos > Criminosos procurados 4 O QUE O SISTEMA FAZ

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil