Folha de S.Paulo

Aplicativo lê movimentos de surdos e traduz língua de sinais para português

- PHILLIPPE WATANABE

A operadora de produção Vanderlane Menezes Gomes, 29, sentiu-se mal no trabalho e, sem ajuda, foi até a enfermaria e comunicou o que sentia. O que parece básico, foi significat­ivo para ela, que é deficiente auditiva e se comunica por Libras (Língua Brasileira de Sinais). Isso foi possível graças à Giulia, um novo aplicativo gratuito que traduz as Libras para o português.

Com um smartphone preso a uma pulseira, o aplicativo Giulia, da start-up Map Innovation, consegue “ler” os sinais usados para se comunicar e os transforma em palavras faladas em português.

Segundo o criador do programa, Manuel Cardoso, isso é possível graças ao magnetômet­ro —a bússola do celular— presente em alguns modelos de smartphone. Para aparelhos que não possuem essa tecnologia, no futuro o programa oferecerá uma função de teclado em Libras.

“A surdez é uma deficiênci­a invisível. O surdo passa ao seu lado e você não sabe. Só fica sabendo se for se comunicar com ele”, diz Cardoso.

Com a tradução quase simultânea —com algumas limitações e travamento­s ainda—, idas ao mercado e à farmácia, a vida escolar e até consultas médicas podem ser facilitado­s, evitando-se problemas de comunicaçã­o.

Até o lançamento, o aplicativo havia sido testado por cerca de cem pessoas, entre elas Vanderlane, que trabalha em Manaus em uma fábrica da Whirlpool, dona de marcas como a Brastemp e Consul e parceira do projeto.

O programa também já está em uso em uma farmácia (para tradução de rótulos com a câmera do celular) e em uma loja de eletroelet­rônicos, ambas em Manaus.

Marcel Cunha, um dos desenvolve­dores do Giulia, afirma que, para uma tradução precisa e funcional, é necessário ter acesso às palavras que serão traduzidas e incorporá-las ao programa, já que a formação de frases em libras não necessaria­mente é igual na língua portuguesa.

Por isso, pelo menos por enquanto, o aplicativo não consegue ser usado para toda e qualquer situação do dia a dia.

“O português é uma língua estrangeir­a ao surdo”, diz Leandro Almeida da Silva, presidente da Associação de Surdos de SP. Ele diz que hoje há sistemas que traduzem português para libras, um caminho mais fácil. Já o inverso, o mapeamento da linguagem de sinais, é mais complexo.

Cardoso afirma também que a Microsoft está investindo no aplicativo com a ideia de implementá-lo em programas do pacote Office (como Word) e no Skype.

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Divulgação Aplicativo promete facilitar comunicaçã­o de surdos

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