Folha de S.Paulo

ONDE COMEÇA A LAMA

Em parceria com cineasta Cláudio Assis, coreógrafa Deborah Colker suja bailarinos de barro em versão dançada do poema ‘O Cão sem Plumas’, de João Cabral

- SEXTA-FEIRA, 30 DE JUNHO DE 2017

de “Evguêni Oniéguin”, de Alexander Púchkin, e “Belle” (2014), baseado em “A Bela da Tarde”, de Joseph Kessel.

Deborah iniciou o processo de pesquisa há três anos. Via uma força na geografia do poema (as margens do rio Capibaribe) e queria levá-la para a cena. Convidou o cineasta Cláudio Assis para que produzisse­m imagens da região.

Em novembro passado, a equipe percorreu por três semanas cinco cidades que margeiam o rio pernambuca­no, dando oficinas de dança às comunidade­s e conhecendo elementos da cultura local.

Ali, gravaram as cenas que acompanham cerca de 70% do espetáculo. Em preto e branco, numa fotografia seca e contrastan­te que lembra as imagens de Sebastião Salgado, o filme é projetado ao fundo do palco. Mostra performanc­es dos bailarinos pelos mangues do rio, as paisagens amplas e craquelada­s.

“É um espetáculo em movimento, intermiten­te, como o poema”, afirma Assis. “A gente pode ir mudando a ordem das imagens [na temporada].”

À frente da tela, os bailarinos lembram caranguejo­s: o tronco curvado, os braços tortos. Eles se movimentam em conjunto, quase formando um corpo só. À medida que dançam, a lama que cobre seus corpos, em parte já seca, sobe em pó e suja o palco.

A coreografi­a traz influência­s regionalis­tas (como o coco, com fortes batidas de pés), mas também estrangeir­as, caso do africano kuduro. São movimentos mais concisos, distantes dos trabalhos acrobático­s pelos quais Deborah ficou conhecida, em espetáculo­s como “Mix” (1995) e “Nó” (2005). “A gente vai do clássico ao popular. Uso sapatilha de ponta e ainda vou para a lama”, diz ela.

Também nem só de regionalis­mos é feita a trilha sonora de Jorge dü Peixe, vocalista do Nação Zumbi, com participaç­ão do músico Lirinha.

Dü Peixe criou canções melódicas para os versos, ora cantados (pelo próprio ou por Lirinha), ora declamados (em gravações que acompanham a música). Há um pouco do manguebeat e do eletrônico caracterís­ticos do músico, mas também traços de frevo e valsa. “Mas, claro, tudo salpicado de lama”, conta ele.

O processo do espetáculo ainda vai dar origem a um documentár­io, que deve sair entre setembro e outubro.

O longa acompanhar­á a residência nas comunidade­s ribeirinha­s, a estreia em Pernambuco no início deste mês e uma apresentaç­ão prévia feita no Marco Zero de Recife no fim do ano passado, com o grupo dançando sobre uma uma balsa alocada no encontro do Capibaribe com o mar. MARIA LUÍSA BARSANELLI QUANDO 30/6 e 1º/7, no Bourbon Country (Porto Alegre); 19/7, no Festival de Dança de Joinville; 27 a 30/7, no Theatro Municipal do Rio; 5 a 6/8, no Sesc Palladium (BH); 9 e 10/8, no Teatro Goiânia; 12/8, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Brasília); e 25/8 a 3/9, no teatro Alfa (SP) PROGRAMAÇíO E INGRESSOS ciadeborah­colker.com.br/agenda

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Companhia em ‘Cão sem Plumas’; ao fundo, vídeo de Deborah Colker e Cláudio Assis

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