Carisma de Omar Sy como pai levanta ‘Uma Família de Dois’
FOLHA
De modo geral, os remakes são recebidos com certa desconfiança pela crítica e pelos espectadores. A comparação com o original é inevitável, ininterrupta e, muitas vezes, compromete a nova experiência. Mas o caso não se aplica a “Uma Família de Dois”. Pelo contrário. O longa assinado por Hugo Gélin se sai melhor do que a obra que o inspirou.
Tudo bem que a tarefa nem era tão complexa, já que a comédia mexicana “Não Aceitamos Devoluções” (2013), dirigida e protagonizada por Eugenio Derbez, patina do início ao fim. Com maior investimento e elenco afinado, a refilmagem se sobressai em termos técnicos, artísticos e narrativos. Traz mais graça e elaboração a um roteiro insosso, quase bobo.
Mas o grande trunfo da versão francesa atende pelo nome de Omar Sy.
Conhecido pelo grande público desde “Intocáveis” (2011), o ator de 39 anos transborda carisma e levanta qualquer produção.
Em “Uma Família de Dois” ele é Samuel, funcionário de um barco de turistas na Riviera Francesa que adora pagar de patrão, dar festas de arromba e conquistar belas mulheres.
A boa vida acaba quando Kristin (Clémence Poésy), uma ex-peguete, aparece do nada com um bebê a tiracolo, diz que ele é o pai da criança e some num piscar de olhos.
Desesperado, Sam embarca para Londres em busca da mãe da menina. Porém, a tentativa frustrada impõe o desafio de assumir a criação de Gloria (Gloria Colston).
A partir daí, a trama se concentra na relação entre pai e filha, que, embora bem bonitinha, repete alguns problemas do longa original.
Em poucos minutos, o choque do primeiro contato dá lugar a uma harmonia irretocável. O roteiro abusa das reviravoltas e chega muito perto de transformar uma comédia leve num melodrama absolutamente dispensável.
A coisa só não desanda porque o time de atores equilibra o tom. Omar Sy transita pelo riso e pela lágrima sem forçar a barra. Gloria dá brilho e graciosidade à sua personagem. Clémence Poésy transmite no olhar a culpa de uma mãe que abandonou a filha, e Antoine Bertrand (Bernie, o amigo gay de Sam) justifica o clichê.
Apesar dos consideráveis deslizes —em grande parte herdados do filme mexicano—, “Uma Família de Dois” vale o ingresso e contraria as expectativas sobre os remakes. (DEMAIN TOUT COMMENCE) DIREÇÃO Hugo Gélin ELENCO Omar Sy, Clémence Poésy, Antoine Bertrand PRODUÇÃO França/Inglaterra, 2016, 12 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO bom