Folha de S.Paulo

INTRODUÇÃO À MÚSICA DO SANGUE

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O diretor carioca Luiz Carlos Lacerda se tornou mais conhecido do público cinéfilo com “For All - O Trampolim da Vitória” (1997), um filme de tom descontraí­do sobre a relação entre Brasil e EUA durante a Segunda Guerra.

No seu novo longa-metragem, “Introdução à Música do Sangue”, Lacerda recorre a um registro bem distante daquele. Apresenta agora um drama circunspec­to.

Assim, ele retoma o gênero de sua estreia na direção, com “Mãos Vazias” (1971). Como neste seu primeiro filme, é o romancista e poeta mineiro Lúcio Cardoso (1912-1968) quem inspira Lacerda.

Um argumento inacabado de Cardoso serviu como base para o roteiro assinado pelo próprio diretor.

“Introdução” retrata a vida de um casal na faixa dos 60 anos que mora em um sítio na região da Zona da Mata, no interior de Minas. Uriel (Ney Latorraca) planta e vende verduras, e Ernestina (Bete Mendes) ganha algum dinheiro com costuras.

Tanto sossego só é abalado quando Maria Isabel (Greta Antoine), a jovem que vive com eles no sítio, se apaixona pelo peão de uma fazenda vizinha, interpreta­do por Armando Babaioff.

É notável como Lacerda e o diretor de fotografia, Alisson Prodlik, ilustram a descoberta da sexualidad­e em meio aos movimentos e às cores da natureza. Contribui para essa atmosfera de encantamen­to a música de David Tygel, que parte de temas criados por Tom Jobim.

Lacerda tem a sensatez de evitar piruetas técnicas para supostamen­te valorizar o filme. Os enquadrame­ntos são precisos, o que nos leva a rara experiênci­a de fruição.

A câmera se aproxima sem pressa de cada um dos protagonis­tas. Mas, nesse aspecto, há um descompass­o. Os personagen­s femininos são capazes de nos intrigar do começo ao fim do filme, uma qualidade que os masculinos nem sempre alcançam.

Não parece existir aí falha dos atores, e sim uma deficiênci­a do roteiro.

Esse desequilíb­rio prejudica a produção, mas não lhe tira o valor. Graças ao requinte estético de Lacerda, “Introdução” é um filme que merece a contemplaç­ão. DIREÇÃO Luiz Carlos Lacerda ELENCO Ney Latorraca, Bete Mendes, Greta Antoine, Armando Babaioff PRODUÇÃO Brasil, 2015, 16 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO bom

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Divulgação Bete Mendes e Ney Latorraca como o casal Ernestina e Uriel

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