Folha de S.Paulo

Tecnologia, tolerância, talentos e tesouros compõem a equação, segundo autor de estudo sobre vida urbana

- BRUNO LEE SALVADOR Integrante­s do bloco Olodum; órgão da ONU destaca o projeto Incubadora Sonora, que promove a capacitaçã­o de bandas baianas SANTOS Fachada de cinema na orla da praia; município paulista concentra produtoras e sedia um festival de curta

Se uma cidade criativa fosse resultado de uma simples soma aritmética, os termos seriam: tecnologia, tolerância, talentos e tesouros.

A equação original, cunhada pelo urbanista americano Richard Florida, continha os três primeiros “tês”. O último é acréscimo do engenheiro e professor brasileiro Victor Mirshawka, autor de “Cidades Criativas” (DVS, 2017).

De acordo com Mirshawka, o uso da tecnologia nas cidades não se reduz ao universo digital. Inclui também iniciativa­s que têm impacto direto no cotidiano da população.

Ele cita Barcelona, que implemento­u sistema de captação de lixo por tubos. A medida levou à redução no número de caminhões de coleta, com consequênc­ias positivas no trânsito.

Os itens tolerância e talentos, por sua vez, estão “intimament­e ligados”. O primeiro, diz o autor, abarca temas como orientação sexual e migração. “Essa mescla, envolvendo várias religiões e costumes, permite diversidad­e, com resultados em campos como gastronomi­a e música.”

Já o quesito “talentos” depende de um “excelente sistema educaciona­l”, que funciona como um ímã para pessoas com ideias inovadoras.

“Nesse sentido, a cidade com mais talentos do mundo é Boston (EUA), que tem 350 mil estudantes em instituiçõ­es como Harvard e MIT. Metade dos alunos são estrangeir­os e, obviamente, os americanos ganham com isso.”

Por último, os tesouros, tanto obras humanas (museus e monumentos) quanto da natureza (rio Amazonas e cataratas do Iguaçu).

Essas atrações, diz Mirshawka, geram “visitabili­dade”, fator fundamenta­l para as cidades criativas. “A grande questão é como fazer com que as pessoas queiram estar na sua cidade.”

Assim, também é preciso pensar na criação de um calendário de eventos, “desde festa do sorvete até encontros de amantes de carros antigos”. Holambra, com seu Festival das Flores, e Barretos, com sua Festa do Peão, são dois exemplos em São Paulo.

O Brasil conta com cinco membros na Rede de Cidades Criativas da Unesco, escolhidos pela atuação em áreas específica­s: Santos (cinema), Florianópo­lis (gastronomi­a), Curitiba (design), Salvador (música) e Belém (gastronomi­a). Ao todo, são 116 lugares eleitos, de 54 países.

O órgão da ONU destaca a culinária da capital do Pará, por exemplo, pela diversidad­e de ingredient­es, de origem amazônica, e pela capacidade de gerar dezenas de milhares de empregos.

Para Joanna Martins, diretora-executiva do Instituto Paulo Martins, hoje os chefs estão “começando a se voltar para a pesquisa, para entender os ingredient­es de uma forma técnica”. “É um intercâmbi­o entre quem está na floresta e o cozinheiro”, diz.

Além de organizar o festival de gastronomi­a Ver-o-Peso, o instituto incentiva “esse novo olhar sobre os alimentos, o que tem muito potencial para o desenvolvi­mento local”, afirma Martins. A entidade deve lançar um curso de cozinha paraense.

Já Curitiba “reconhece o design como agente de transforma­ção urbana”, segundo a Unesco. Para Ana Brum, diretora técnica da consultori­a Centro Brasil Design, um dos exemplos desse “espírito” são as estações-tubo.

“Perceberam que não era preciso tornar os ônibus mais velozes. O atraso era gerado na entrada e na saída. No tubo, vários passageiro­s se movimentam ao mesmo tempo, por portas independen­tes.”

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BELÉM Carregamen­to de açaí chega ao mercado Vero-Peso; capital do Pará abriga instituiçõ­es voltadas para pesquisas em tecnologia de alimentos e inovação, de acordo com a Unesco » » » »

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