Folha de S.Paulo

Clamor sem Justiça

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Na sexta-feira, a ministra Cármen Lúcia disse que o Supremo Tribunal Federal não vai ignorar o “clamor por Justiça que hoje se ouve em todos os cantos do país”. No mesmo dia, a corte concedeu benefícios a dois políticos sob suspeita de corrupção. Permitiu que Aécio Neves volte ao Senado e libertou Rodrigo Rocha Loures, o deputado da mala.

Além do passe livre, Aécio ganhou elogios. Ao devolver o mandato e o passaporte do tucano, o ministro Marco Aurélio Mello anotou que ele tem “fortes elos com o Brasil”. “É brasileiro nato, chefe de família, com carreira política elogiável”, escreveu.

Em março, o senador foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista. O empresário descreveu a transação como um repasse de propina. Na versão de Aécio, tratou-se apenas de um empréstimo sem registro oficial.

Em outra decisão individual, o ministro Edson Fachin soltou Rocha Loures. A defesa alegou que ele estaria trancado em “condições insalubres”. O ministro se sensibiliz­ou e mandou o peemedebis­ta para casa. Ele é um feliz morador do Lago Sul, bairro mais valorizado de Brasília.

O Planalto comemorou a libertação do deputado da mala. Filmado recebendo R$ 500 mil, Loures se sentia pressionad­o a dizer quem era o verdadeiro destinatár­io do dinheiro. Solto, ele fica mais distante de fechar um acordo de delação premiada.

Nesta semana, Michel Temer se tornou o primeiro presidente a ser formalment­e acusado de corrupção no exercício do cargo. Na noite seguinte, ele jantou na casa de Gilmar Mendes, o ministro do Supremo que o salvou no TSE. Sentaram-se à mesa Eliseu Padilha e Moreira Franco, também investigad­os na Lava Jato.

Na sexta, Celso Jacob foi o único a marcar presença na Câmara. Condenado a sete anos, o peemedebis­ta passa o dia no Congresso e a noite na Papuda, onde cumpre a pena no regime semiaberto. O deputado presidiári­o é um símbolo do Brasil em 2017, onde o “clamor por Justiça” enfeita discursos, mas não vale para todos.

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