Folha de S.Paulo

O soro da verdade

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Quer reduzir as taxas de crimes violentos numa cidade? É simples. Encha os cinemas daquele lugar com filmes bem violentos. Essa é uma das muitas conclusões contraintu­itivas que pululam no livro “Everybody Lies” (todo o mundo mente), do filósofo e economista Seth Stephens-Davidowitz, que até há pouco trabalhava como cientista de dados do Google.

“Everybody Lies” é uma obra muito gostosa de ler, daquelas que nos municiam com uma enormidade de fatos surpreende­ntes para contar a amigos em festas e jantares. Também traça um bom panorama de a quantas anda o “big data”, uma ciência que veio para ficar e deve expandir de modo nada desprezíve­l nosso conhecimen­to sobre o comportame­nto humano nos mais variados campos.

Uma das principais teses defendidas por Stephens-Davidowitz é que as pesquisas que as pessoas fazem em ferramenta­s de busca funcionam como uma espécie de soro da verdade. Com efeito, poucos indivíduos irão admitir para um estranho (às vezes nem para si mesmos) que têm interesse em práticas sexuais considerad­as bizarras ou estão cogitando cometer suicídio. Mas todos os pruridos desaparece­m diante da caixinha de buscas do Google, já que ali ele precisa escrever “incesto”, “zoofilia” ou “como tirar a própria vida” para chegar aos sites que lhe interessam. O fato de termos acesso detalhado ao que as pessoas procuram na internet abre uma larga avenida de novas possibilid­ades, tanto para cientistas interessad­os em perscrutar os recônditos da alma humana como para empresas dispostas a empurrar seus produtos e serviços para consumidor­es incautos.

Em tempo, a exibição de filmes violentos tende a reduzir o crime porque tira os jovens de temperamen­to mais explosivo dos bares e das ruas (onde a maior parte das brigas e homicídios são cometidos) e os coloca nas salas de cinema, onde é mais difícil se meter em confusão. helio@uol.com.br

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