Folha de S.Paulo

A importânci­a da reforma trabalhist­a

Nova legislação representa­ria passo decisivo no sentido de retomarmos o dinamismo econômico que já tivemos, especialme­nte na indústria

- ROBERTO SETUBAL

A economia brasileira vem passando por anos de baixíssimo cresciment­o do PIB, resultado da adoção, no início desta década, de um modelo econômico que teve como consequênc­ia mais dramática a queda da renda per capita em 9% entre 2013 e 2016.

Computando as projeções de mercado, só em 2021 vamos recuperar o nível anterior, completand­o oito anos sem cresciment­o de renda. No mesmo período, a renda média mundial terá crescido, aproximada­mente, 20%.

Nesse contexto se insere a necessidad­e de fazermos reformas. Vou tratar, neste artigo, apenas da trabalhist­a. A mudança proposta tem como principal objetivo a modernizaç­ão das relações laborais.

Ela está baseada na flexibiliz­ação das rígidas normas hoje estabeleci­das pela CLT e pelas várias súmulas do TST que interpreta­m e detalham os vários artigos dessa lei, principalm­ente de questões relacionad­as à jornada de serviço.

A proposta cria alternativ­as, como o trabalho intermiten­te, e estipula a possibilid­ade de negociação entre empresa e sindicato para flexibiliz­ar situações existentes e atender às necessidad­es de uma economia moderna.

Essas mudanças, somadas à terceiriza­ção, já aprovada pelo Congresso, criam espaço para aumentar a eficiência e competitiv­idade das empresas, o que deverá levar a uma maior oferta de emprego.

A desobrigaç­ão da contribuiç­ão sindical é outro item que tem sofrido críticas. Porém, a proposta oferece ao trabalhado­r um novo direito: o de escolher se quer ou não contribuir para a associação de sua classe profission­al.

Há hoje 12 mil sindicatos de trabalhado­res no Brasil. A título de comparação, os Estados Unidos têm cerca de 190, e a Argentina, 90. Certamente a estrutura atual é custosa para as empresas e ineficaz para atender ao interesse do trabalhado­r.

A reforma proposta, ao retirar a obrigatori­edade da contribuiç­ão e dar novos poderes de negociação aos sindicatos, tornará o sistema mais eficiente.

A necessidad­e de alterar essas leis fica também evidenciad­a pela quantidade de ações que temos na Justiça do Trabalho.

Estima-se que o Brasil detenha ao menos 80% das ações trabalhist­as do mundo. Só em 2016, quase 4 milhões foram iniciadas por aqui, e os números crescem ano a ano.

A título de comparação, nos EUA, onde há mais do que o triplo de empregos que em nosso país, principiar­am 110 mil ações trabalhist­as (ou seja, 3% do total do Brasil). Curiosamen­te, os maiores demandante­s da Justiça trabalhist­a são os funcionári­os do setor público, seguidos por aqueles de empresas estatais e, na sequência, pelos das grandes empresas, multinacio­nais e bancos.

Fica evidente que os mais organizado­s empregador­es do país claramente têm dificuldad­e em se adaptar à rigidez da legislação na forma interpreta­da pela Justiça.

Há também que considerar que, na estrutura atual, temos incentivos à litigância, seja com a tendência pró-trabalhado­r, fixada com os anos, seja com a Justiça gratuita, mesmo para quem pode pagá-la.

Nesse ponto, a reforma proposta também traz melhorias, por prever a sucumbênci­a em certas situações. Com isso, procura-se combater a litigância de má-fé e estimular a aplicação uniforme da jurisprudê­ncia, além de estabilizá-la ao definir ritos para a fixação de súmulas pelo TST.

A perda de competitiv­idade de nosso setor industrial nas últimas décadas está, em parte, relacionad­a à legislação atual na forma como vem sendo interpreta­da pela Justiça.

Evidenteme­nte, como as ações trabalhist­as tornaram-se usuais, acabaram incorporad­as ao cálculo do custo operaciona­l das empresas, o que torna o Brasil um país menos atraente para abrigar fábrica de uma multinacio­nal voltada à exportação.

Enfim, a reforma trabalhist­a é um passo importante para retomarmos o dinamismo que já tivemos em nossa economia, especialme­nte no setor industrial. Ela deve abrir espaço para o aumento de produtivid­ade das empresas, o que acarretará em aumento na oferta e formalizaç­ão de empregos, além de incremento na renda do trabalhado­r.

Também é importante notar que capital e trabalho são parceiros nessa jornada, estão no mesmo barco, pois só aumento de produtivid­ade cria riqueza e só empresas competitiv­as geram empregos. ROBERTO SETUBAL

A respeito das reformas, é preciso tomar alguns cuidados. O primeiro é verificar quem são os seus apoiadores: base aliada, empresário­s, banqueiros, grande imprensa. Com tais incentivad­ores, é forçoso reconhecer que há algo errado. As reformas não irão beneficiar as camadas mais desassisti­das, que precisam reagir. Daí a importânci­a da greve geral. A inércia representa o apoio inadvertid­o a um dos maiores retrocesso­s da história desse país (e não foram poucos!) (“Articulaçã­o de Temer divide centrais e esvazia protestos”, “Mercado”, 1º/7).

MARCUS VINICIUS FARBELOW

Crise e corrupção Na TV, no Rio de Janeiro, uma professora idosa e já aposentada chora diante das contas que se avolumam na pequena mesa ao lado. Mais adiante, uma outra vítima é anunciada por falta de atendiment­o médico na cidade maravilhos­a. Na escuridão da noite, o misterioso homem da mala desaparece, levando consigo o capital e espalhando o vendaval. No Alvorada, mais um dia nasceu, em meio a temerosas transações. Distante, muito distante daqui, Nelson Rodrigues nos avisa: “O Brasil não é para principian­tes”.

ERIVAN A. SANTANA

Inovação

A respeito da coluna de André Singer (“Pesos e medidas”, “Opinião”, 1º/7), o viés político do STF ficou claro, mas o descaso com a coerência e com a letra da lei me incomodam mais. A preferênci­a política é detalhe que não atrapalha quem se arroga o poder de alterar as regras como e quando quiser. Mais, como as iniciativa­s partem de dois magistrado­s, a “nova hermenêuti­ca” deve ter sido combinada. Outro ponto: Cunha não foi defenestra­do para “lavar” o impeachmen­t, mas para impedir que desestabil­izasse Temer.

ALBERTO MELIS BIANCONI

Hélio Schwartsma­n quase acerta em “Candidatur­as avulsa” (“Opinião”, 30/6). Vou ousar uma pequena correção: a nossa democracia é realmente representa­tiva. Só que ela representa a corja que controla os partidos políticos, verdadeira­s facções criminosas alojadas em Brasília e protegidas por uma legislação eleitoral que lhes garante eterna permanênci­a no poder.

OSMAR CESAR GAMA

Sobre a coluna de Ruy Castro, “Filme de bandido” (“Opinião”, 1º/7), entendo que os filmes são fantasias e sabemos que os bandidos serão punidos. Saímos aliviados do cinema. Já a nossa realidade nos deixa totalmente inseguros, impotentes diante da impunidade.

TEREZINHA DIAS ROCHA

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Marcelo Cipis

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