Questão de (im)perícia
PROTAGONISTAS DA crise política no ponto essencial. Ambas detectaram brasileira depois de 17 de maio, interrupções no áudio.” quando veio a público a existência Tenho aqui de manifestar minha da gravação de conversa pouco republicana discordância. A primeira perícia entre o presidente Michel “verificou existência de mais de 50 Temer e o empresário Joesley Batista, edições”. A segunda –assim como perícias e peritos acabaram por a análise oficial– apontou interrupções expor fragilidades da Folha. causadas pelo aparelho usado.
O jornal deu mostra de agilidade Edição exige ação voluntária de ao ser o primeiro a encomendar uma alguém. Não pode ser comparada à perícia no áudio. A tarefa foi solicitada interrupção provocada por um recurso ao desconhecido Ricardo Caires do equipamento para ampliar dos Santos, identificado como as horas possíveis de gravação. “perito judicial pelo Tribunal de Justiça Cotejando todos os laudos apresentados, do Estado de São Paulo”, sua não há dúvidas da existência melhor qualificação. de elementos mais do que suficientes
Sua conclusão, publicada em 20 para que “o jornal assuma de maio, foi a de que havia “edições” que contratou um serviço ruim e no áudio, “indícios claros de manipulação” anuncie o banimento do perito de e “vícios” que o invalidariam sua lista de prestadores, a bem do como prova jurídica. O laudo leitor”, como escrevi na crítica. logo foi encampado por Temer para Por imperícia jornalística, a imagem desqualificar as denúncias. da Folha foi arranhada.
Em coluna publicada em 21 de Discordo, no entanto, de que o jornal maio, elogiei o jornal “pelo saudável tenha buscado preservar Temer. exercício da dúvida”, ao remar Apesar de que alguns equívocos e contra a corrente que condenara o lores Mobiliários) de CDN, além de fez ouvidos moucos. opções de edição do noticiário possam presidente Temer antes de ter conhecimento ter erros gramaticais elementares. Questionei a direção a respeito ter apontado nessa direção, a integral da conversa. Ao “Globo”, Caires foi menos incisivo do episódio. O secretário de Redação, Folha pediu em editoriais a renúncia
Considerava, entretanto, que o na questão dos cortes e na Vinícius Mota, afirmou que as de Temer, defendeu diretas para jornal fora enfático por demais ao manipulação do áudio. A Folha principais conclusões de Ricardo escolher seu substituto, apoiou decretar a inconclusividade da gravação. saiu em defesa da perícia contratada Caires dos Santos “estão em linha” que sua chapa fosse cassada e classificou Mesmo com dúvidas acerca e reafirmou suas conclusões sem de Criminalística identificaram com os principais pontos apontados o governo como agônico. da literalidade de alguns trechos, se dobrar a suas falhas. mais de 180 interrupções “naturais” pelo Instituto Brasileiro de Peritos, Jornalistas não gostam de tomar as circunstâncias da conversa indicava A partir daí, alguns leitores perceberam no áudio. A perícia indicou referindo-se à segunda perícia encomendada furos. Com frequência, olham com elementos incompatíveis com a existência de rixa entre que o equipamento usado pelo empresário pela Folha. “Nada foi desconfiança notícias exclusivas publicadas o decoro exigido do presidente. os dois jornais e estranharam os papéis da JBS possui um dispositivo “encampado” –o jornal relatou o pelos concorrentes, o que
Logo após a publicação da primeira que cada um exercia no caso. que pausa automaticamente a que o perito registrou. Deve-se ressaltar leva parte da corporação e da chefia perícia, o site “O Antagonista” “O Globo” foi identificado como antigovernista, gravação em momentos de silêncio que a perícia dele foi a primeira a abraçar teses que minimizam e o jornal “O Globo” questionaram e a Folha, como governista, e a retoma quando identifica som. feita no material– nem o Ministério ou desqualificam o furo tomado. O o currículo do perito contratado invertendo papéis históricos Em crítica interna distribuída à Público havia feito tal procedimento resultado é uma prática enviesada pela Folha e listaram erros primários a que ambos já foram associados. Redação considerei que o jornal devia básico. A Folha acertou de jornalismo. Um erro leva a outro. na transcrição da conversa Um mês depois, a Polícia Federal ao seu leitor manifestação reconhecendo em procurar peritos para fazê-lo”, A história não costuma ser suave que fez, como chamar Maria Silvia concluiu que não houve edição na seu erro na contratação justificou. com quem demora a reconhecê-los, (então presidente do BNDES) de Marina gravação da conversa entre Joesley de perícia eivada de fragilidades e Na avaliação do secretário, “não passo essencial para transformá-los Silva, a CVM (Comissão de Vae Temer. Os peritos do Instituto Nacional conclusões equivocadas. A Folha há oposição entre uma e outra perícia em lição para o futuro. Ombudsman tem mandato de 1 ano, renovável por mais 3, para criticar o jornal, ouvir os leitores e comentar, aos domingos, o noticiário da mídia. Fale com a Ombudsman: ombudsman@grupofolha.com.br / tel.: 0800 015 9000 (2ª f a 6ª f, das 14h às 18h) / Fax: (11) 3224-3895
Sem reconhecer falhas da perícia que encomendou, Folha deu margem a questionamento editorial