Pressão de Trump é maior desde Nixon, diz editor do ‘Post’
Para o editor-executivo do “Washington Post”, Martin Baron, desde o governo de Richard Nixon (1969-74), a imprensa americana e o jornal que ele comanda em especial não enfrentavam tanta “pressão” por um presidente.
“Donald Trump usa linguagem até mais pesada do que Nixon”, afirmou o jornalista, que ficou conhecido por ter sido retratado no filme “Spotlight”, vencedor do Oscar. Ele participou do encerramento do congresso da Abraji, em São Paulo. Entre as expressões usadas por Trump, citou “a forma mais baixa da humanidade” e “a forma mais baixa de vida”, ou seja: “Ele tenta nos desumanizar”.
Lembrou que, em seu primeiro dia no cargo, o presidente afirmou estar “em guerra com a mídia”, o que ele questiona, da parte do jornal. “Nós não estamos em guerra. Estamos trabalhando.”
A função da imprensa, sublinhou, já estava presente quando foi escrita a Primeira Emenda à Constituição americana, que proíbe restrições à liberdade de expressão. “Eles queriam que nós cobrássemos responsabilidade do governo.”
Baron alertou para não cair na armadilha de Trump, que quer tornar a imprensa o “partido de oposição”. Segundo ele, “ser independente não é ser oposição”.
Questionado sobre paralelos com a situação no Brasil, o editor sublinhou desconhecer, mas afirmou que “certamente envolve mais políticos do que Watergate”, referindo-se à cobertura do “WP” que levou à queda de Nixon.
Sobre o impacto da aquisição do jornal em 2013 por Jeff Bezos, fundador e presidente da Amazon, o jornalista sublinhou que ela não se restringe aos investimentos financeiros.
“Nós estamos nos transformando numa empresa de tecnologia”, diz Baron. “Tecnologia é hoje incrivelmente importante para o nosso setor.”