Folha de S.Paulo

CRÍTICA Biografia não autorizada tenta decifrar a personalid­ade de Marcelo Odebrecht

‘O Príncipe’, que será lançado nesta semana, aborda desavença familiar e filosofia corporativ­a

- FELIPE BÄCHTOLD

“O Príncipe”, livro anunciado como uma biografia não autorizada de Marcelo Odebrecht, tenta elucidar o paradoxo do empresário, talvez o mais importante preso da Operação Lava Jato.

Ao mesmo tempo em que é tido como fechado e de difícil relacionam­ento, ele aprofundou os elos do grupo com políticos, formando um gigantesco esquema de pagamento de propina, que se espalhou por uma série de países e que hoje ameaça presidente­s.

Escrita pelos jornalista­s Marcelo Cabral e Regiane Oliveira, ambos com trajetória no jornalismo econômico, a obra tenta desvendar a personalid­ade do herdeiro da empreiteir­a, descrito como um “anti-Eike Batista”, o ex-bilionário conhecido pelo gosto pelos holofotes —que por sinal também foi preso em um braço da Lava Jato, neste ano.

Ex-recruta do Exército, engenheiro recém-formado que foi trabalhar no interior do país para ganhar experiênci­a, Marcelo, hoje com 48 anos, é descrito como seguidor do estilo disciplina­do do avô Norberto, fundador do grupo.

A desavença com o pai, Emílio, com quem rompeu em meio à pressão para que aceitasse o acordo de delação, é uma das principais marcas no perfil escrito pela dupla.

Ao assumir o comando do grupo, em 2008, Marcelo saboreou o auge da empresa, multiplico­u o faturament­o e defendeu sua expansão, ampliando o foco para áreas como combustíve­is e agroindúst­ria. Na mesma toada, segundo os autores, decidiu dar “profission­alismo empresaria­l” ao suborno político.

Convocou para a tarefa um auxiliar de confiança, que projetou o Setor de Operações Estruturad­as, e estabelece­u que os repasses seriam descentral­izados —o que elevou também a quantidade de dinheiro gasto com esse fim.

Foi o mais ousado passo para um herdeiro forjado sob os princípios da TEO (Tecnologia Empresaria­l Odebrecht), um manual da filosofia corporativ­a concebido por Norberto que mistura orientaçõe­s sobre cresciment­o pessoal a conceitos inspirados em Martinho Lutero ou no filósofo Jean-Jacques Rousseau. O FUTURO A ambição de ser uma completa “biografia não autorizada”, como diz a capa do livro, porém, não chega a ser alcançada. Longos trechos são dedicados a contextual­izar e rememorar a Lava Jato e seus episódios mais marcantes.

O relato sobre a investigaç­ão e o cerco à empresa, que resultou no mega-acordo de colaboraçã­o, somente compila o que saiu na imprensa no período. As intrincada­s idas e vindas da operação, ao longo de três anos, acabam narradas com alguns tropeços.

Um capítulo reproduz depoimento­s da delação de Marcelo, formando um relato em primeira pessoa sobre a arquitetur­a do esquema. Também são citados detalhes de seu período na prisão, como um pedido para que subordinad­os detidos usassem camisas com o logotipo da empresa.

O ritmo da obra, que não segue ordem cronológic­a, volta a crescer no fim, ao analisar a incerteza sobre o futuro da empreiteir­a, que teve a imagem estraçalha­da, perdeu dezenas de executivos no acordo de delação e, “pela primeira vez na história”, não tem um Odebrecht no comando.

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