General é amigo de Raúl Castro e foi intérprete de Fidel
DO ENVIADO A MOSCOU
As discussões sobre a novaConstituiçãocubanagiram em torno de propostas colocadas na mesa em 2011 pelo ditador Raúl Castro: mandato presidencial de cinco anos com direito a uma reeleição, limite de idade de 60 anos para assumir cargos do Comitê Central, manutenção do unipartidarismo e de eleições indiretas —que irão confirmar o número dois do regime como novo presidente.
Esse é o resumo dado por Nikolai Leonov após passar seis meses em Havana. A mensagem foi transmitida pelo próprio Castro, de quem é amigo desde 1953, quando ambos se encontraram durante uma viagem de navio após um congresso de jovens comunistas na Romênia.
Leonov esteve na ilha comunista do Caribe cuidando dos detalhes de uma biografia do amigo ditador que ele está finalizando —e a quem defende ferreamente.
“A transição está completa. O número dois já está pronto, é o Miguel Díaz-Canel, que é uma pessoa que não tem nada a ver com a origem da revolução. Mas o Partido Comunista continuará no poder”, afirma o general aposentado.
Díaz-Canel, 57, foi elevado ao cargo de primeiro vicepresidente do Conselho de Estado de Cuba, e deverá superar desconfianças do Exército para ser eleito para o lugar de Raúl ao fim do mandato autoconcedido pelo ditador de 86 anos, que expira no ano que vem.
Em espanhol límpido e lúcido, apesar de ter tido a visão algo comprometida por um derrame recente, Leonov afirma que a aproximação iniciada com Cuba no final de 2014 pelo então presidente dos Estados Unidos Barack Obama “significa uma vitória da revolução”.
Para ele, as ameaças de rompimento por parte do atual mandatário americano, Donald Trump, “são bobagem, não se pode deter agora o processo”, ressaltando que o republicano falou grosso, mas não cortou laços diplomáticos com a ilha.
A carreira do general russo se mistura com a história da Revolução Cubana, ocorrida em 1959.
Dois anos depois de conhecer Raúl, travou contato com Fidel Castro e Che Guevara, e apresentou o trio ao Kremlin —levando a revolução, na época sob pressão americana, a cair no colo de Moscou, apesar de não ter nada de comunista em sua origem.
Leonov serviu de intérprete do ditador Fidel Castro durante sua famosa visita a Moscou em 1963, depois de a crise dos mísseis que a União Soviética tentou instalar na ilha quase ter levado o mundo a uma guerra nuclear um ano antes.
De 1956 até sua aposentadoria, em 1991, Leonov foi o principal especialista em América Latina da KGB e chegou a número dois do serviço secreto —sua história foi objeto de reportagem da Folha há quase dez anos. (IG)