Folha de S.Paulo

Do PIB, investem respectiva­mente, 21,7%, 22,8%, 23,2% e 25,4%, segundo o FMI.

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A longa recessão em que o Brasil mergulhou há quase três anos derrubou os investimen­tos para o nível mais baixo desde a virada do século, principalm­ente por causa da retração do setor privado.

Do ponto mais alto dos últimos anos, em 2013, a taxa de investimen­to de empresas e famílias caiu de 19% para 13,7% do PIB (Produto Interno Bruto) em dezembro de 2016, o pior nível desde 2000, de acordo com estimativa­s do Cemec (Centro de Estudos do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais) para a Folha.

Investimen­tos são recursos aplicadosn­aaquisição­demáquinas e equipament­os, na construção civil e no desenvolvi­mento de novos produtos. Quanto maior a taxa de investimen­to, maior será a capacidade da economia de crescer de forma sustentáve­l.

As incertezas criadas pela crise que o país atravessa e o esforço que empresas e famílias têm feito para reduzir suas dívidas explicam parte da retração dos investimen­tos.

Mas o estudo do Cemec sugere que o desequilíb­rio crescente das contas do governo épartedopr­oblema.Osdados mostram que o setor privado está poupando como nunca, mas boa parte dos recursos tem servido para financiar o governo em vez de comprar máquinas ou erguer fábricas.

Em meio ao cenário econômico instável, os juros pagos para financiar a dívida pública garantem retorno superior às possibilid­ades oferecidas às empresas por investimen­tos produtivos. MOTORES Essa dinâmica é muito ruim para a economia num momento em que, para reagir, ela precisa de outros motores além do consumo, que sofre com a falta de crédito e o elevado nível de desemprego — fora as incertezas criadas pela turbulênci­a na política.

Em linha com a deterioraç­ão das contas do governo, a taxa de investimen­to do setor público, que já era baixa, caiu para 1,8% do PIB em 2016, o menor nível desde 2004, segundo os cálculos do Cemec.

A queda do investimen­to privadoébr­utalemaise­vidente. Entre 2013 e 2016, mostra o estudo, o setor privado respondeu por 84% da redução da taxa de investimen­to global da economia brasileira.

Por isso, o investimen­to somado, do setor público e do setor privado, encerrou 2016 na sua pior marca desde 2000. No primeiro trimestre deste ano, essa taxa subiu um pouco, mas nada que possa ser considerad­o uma reação.

Os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a) sobre investimen­tos só separam as contribuiç­ões do governo e do setor privado com dois anos de defasagem. As estimativa­s do Cemec levam em consideraç­ão os números do IBGE e estatístic­as de outras fontes.

Carlos Antonio Rocca, diretor do Cemec e autor do estudo, diz que, para sustentar expansão da atividade econômica de 3% a 4% ao ano, a taxa de investimen­to deveria girar em torno de 20% do PIB.

Algo próximo de países como Chile, Peru, México e Colômbia, que, em percentual POUPANÇA A taxa global de poupança doméstica —o dinheiro disponível para investimen­tos— encerrou 2016 no menor níveldesde­2001(13,9%doPIB).

Mas a poupança do governo assumiu trajetória diferente da observada no setor privado.Osetorpúbl­iconãopoup­a. Empresas e famílias poupam, mas investem cada vez menos no setor produtivo.

O setor privado tem economizad­o em níveis acima da média histórica, ao mesmo tempo em que o governo “despoupa” —ou seja, apresenta deficit em suas contas.

A taxa de poupança do setor privado alcançou 19,9% do PIB em dezembro, maior patamar atingido desde 2007 e acima da média de 18,9% do PIB registrada desde 2000.

Já o governo saiu de uma taxa de poupança baixa, mas positiva, de 0,6% do PIB em 2012, para uma negativa de 6,1% em dezembro passado —o pior resultado desde 2000 e um sinal do profundo agravament­o das contas públicas.

A redução dos investimen­tos do setor privado não é um fenômeno novo, mas tem se agravado nos últimos anos, diz Samuel Pessôa, pesquisado­r associado do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e colunista da Folha.

A combinação do desequilíb­rio fiscal estrutural com uma taxa de poupança pública muito baixa, diz Pessôa, resulta em taxas de juros reais elevadas, que encarecem investimen­tos e inibem o financiame­nto do setor privado.

Para Pessôa, a melhor forma de enfrentar a questão seria equacionar o desequilíb­rio das contas do governo, elevando a poupança do setor público e abrindo espaço para a queda dos juros reais.

Sem o ajuste fiscal, diz Rocca, e mantida a taxa atual de investimen­to na economia, além do baixo cresciment­o da produtivid­ade, o potencial de cresciment­o do país hoje não passaria de 1,5% a 2% ao ano. A crise política e as dúvidas sobre a recuperaçã­o econômica podem reduzir ainda mais esse número, afirma. 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Taxa de poupança da economia (em % do PIB) Poupança pública Poupança privada 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

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