Folha de S.Paulo

PARA O ALTO E AVANTE

Fabricante­s como a Embraer se esforçam para desenvolve­r veículos urbanos aéreos, mas esbarram em dificuldad­es regulatóri­as e baterias pouco eficientes

- NATÁLIA PORTINARI Gol 1.0 2018 3,90 m

Talvez nunca seja possível sair voando com seu carro para escapar do trânsito. Mas isso não significa que a indústria tenha parado de tentar chegar perto disso.

Em busca do primeiro carro voador estão Airbus, Toyota, Embraer e start-ups americanas e europeias. A ideia é ter veículos de transporte urbano aéreo, com decolagem vertical, em até cinco anos.

Em abril, a Uber criou a divisão Elevate, para coordenar um serviço de táxi voador quando as aeronaves estiverem prontas.

“O trânsito é incômodo nas metrópoles. Começamos a estudar como trazer as aeronaves para ajudar na mobilidade urbana”, diz Antonio Campello, diretor de inovação da Embraer, uma das empresas que vão desenvolve­r veículos para a Uber. A ideia é ter um protótipo até 2020.

O time da Embraer é pé no chão. “Chamam de carro voador, mas é aeronave. Não é prático fazer avião com roda, chassi, engrenagen­s de carro. Até dá, mas gasta muito combustíve­l”, diz Campello.

Também não é provável que as autoridade­s permitam que motoristas pilotem carros-avião como nos filmes.

“A regulação do setor aeronáutic­o é restritiva, e nós não faríamos uma nave que voasse sem confiabili­dade”, afirma Sandro Valeri, engenheiro da Embraer.

Outros fabricante­s ainda não descartara­m o ideal “Blade Runner”, como no Pop.Up, da europeia Airbus, que tem partes desmontáve­is —um chassi com rodas, uma cápsula de passageiro­s e hélices acopladas no teto. Intercala o uso terrestre com o aéreo, ambos sem motorista.

A Airbus pertence a um grupo de empresas que defende mudanças na regulação internacio­nal para permitir naves sem motorista, controlada­s à distância. É também o objetivo da Embraer e da Uber no Brasil. Hoje, não há certificaç­ão para veículos assim. BATERIA FRACA Há limitações técnicas. Para operar em grande escala, em meio ao trânsito comum, é necessário um motor silencioso. O ideal é que seja um veículo elétrico, mas a eficiência das baterias ainda não é suficiente para sustentar o voo por muito tempo.

A chinesa eHang e a alemã Volocopter aperfeiçoa­ram a tecnologia de drones e criaram pequenos helicópter­os elétricos, potencialm­ente autônomos, que já foram testados no ar. Ambos têm limitações de alcance. O eHang voa sozinho por até 23 minutos, e o Volocopter, 20. O tempo para carregar é quase o dobro.

Os protótipos serão testados em Dallas, nos EUA, e Dubai, nos Emirados Árabes, ainda neste ano. Mas a autonomia de bateria só permite percorrer metade de Dubai. Em São Paulo, seria o suficiente para levar alguém do aeroporto de Guarulhos até a avenida Paulista.

Quanto maior a bateria, maior o peso e a perda de eficiência. Há quem questione se as baterias de lítio são seguras o suficiente para voos e se estão sendo usados os métodos de refrigeraç­ão adequados nesses protótipos.

A limitação de peso reforça a necessidad­e de mudar a regulação aérea, dispensar o piloto e tornar os veículos completame­nte autônomos, segundo os fabricante­s. CONCORRENT­ES A Toyota também está na corrida e espera ter um veículo a tempo da Olimpíada de Tóquio, em 2020.

O Aeromobil, menos sustentáve­l, foca os que têm licença de piloto de avião. Movido a gasolina quando voa e bateria quando está no chão, ele precisa de uma pista de 15 metros para decolar e deve custar mais de € 1 milhão.

Já o Lilium Jet, avião alemão completame­nte elétrico, terá propulsão vertical e horizontal. No projeto, ele decola com rotores de helicópter­o e, quando já está no ar, passa a se sustentar com asas.

Com autonomia de voo de uma hora, o Lilium diz que terá bateria para rodar 300 km e carregar até cinco pessoas. Não é exatamente um “carro voador”. Mas, caso decole, pode inspirar a criação de modelos menores —alguns, até, com rodas.

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