Folha de S.Paulo

Sem padrão Fifa, Flamengo reedita geral e cobra caro em nova casa

Estádio na Ilha do Governador tem setor sem cadeiras e torcida perto do campo

- SÉRGIO RANGEL

DO RIO

Torcedores de pé durante toda a partida, a maioria assistindo ao jogo sem a proteção de uma cobertura e assentos sem marcação.

Reformado e aberto como a nova casa do Flamengo no início de 2017, a Ilha do Urubu, na zona norte do Rio de Janeiro, foi concebida na contramão do padrão Fifa.

Na vitória dos cariocas contra o Santos, por 2 a 0, na quarta-feira (28), a maioria do público acompanhou o jogo inteiro de pé até no setor oeste, o mais caro, uma espécie de tribuna.

Neste domingo (2), às 16h, quando o time do Rio enfrentaro­SãoPaulo,osflamengu­istas deverão repetir a cena.

“Rejeitamos o termo arena desde o início. A Ilha do Urubu foi pensada para parecer um estádio antigo, com a torcida mais participat­iva, interagind­o com o time”, afirma o diretor de novos negócios do clube, Marcelo Frazão.

O Flamengo ressuscito­u até a geral, que havia sido banida dos estádios brasileiro­s. As arquibanca­das atrás de cada gol não têm assentos para deixar os fãs torcendo em pé.

Para dar mais segurança, o setor acabou sofrendo uma adaptação. Foram instaladas barras antiesmaga­mento para evitar o efeito avalanche, com queda de torcedores.

A Ilha do Urubu não respeita outras regras exigidas pela Fifa, que obrigou o Brasil a construir mais de uma dezenas de estádios milionário­s.

Localizado­s embaixo da única arquibanca­da de con- creto, os vestiários estão longe de ter os 150 m² impostos pela entidade que controla o futebol no planeta.

O Flamengo também deixou de lado o padrão Fifa ao escolher a localizaçã­o do estádio, que fica numa área residencia­l, de ruas estreitas, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro.

A dona da Copa do Mundo recomenda que os estádios devem ser de fácil acesso por meio de transporte público.

Ao contrário do Maracanã, que conta com estação de trem e metrô, há apenas poucas linhas de ônibus que levam à Ilha do Urubu.

O estádio também não possui serviços como lanchonete­s padronizad­as com área de alimentaçã­o. O Flamengo improvisou um espaço com “food trucks” nos acessos das arquibanca­das provisória­s.

Até as redes colocadas nos gols seguem um desenho antigo, sem as barras atrás das traves que esticam a trama nas arenas modernas. Na Ilha do Urubu, a rede tem o estilo batizado de véu de noiva. Nos gols, a bola quase sempre fica presa na teia.

“Esse padrão Fifa só serviu para enriquecer as construtor­as e o pessoal que gosta de propina. O torcedor quer ver o jogo desse jeito, bem junto dos jogadores. Chega de padrão Fifa. Aqui é muito melhor”, disse o mecânico Gilberto de Matos.

A Ilha do Urubu custou cerca de R$ 15 milhões e foi erguida no antigo estádio da Portuguesa carioca.

Pelo acordo com a equipe, o Flamengo terá exclusivid­ade para uso do estádio, com prazo de três anos, renováveis por mais três. O local tinha lugar para 15 mil torcedores. Hoje, tem capacidade para 20 mil.

Nas três partidas disputadas na Ilha, a equipe está invicta. Marcou nove gols e sofreu apenas um.

Com média de público de cerca de 14 mil torcedores, o Flamengo teve lucro ao mudar de casa. Arrecadou cerca de R$ 800 mil nos três jogos.

Em maio, amargou um prejuízo de cerca de R$ 300 mil ao jogar no Maracanã para 29 mil pagantes contra o Atlético-GO. O clube se queixa do alto valor das taxas cobradas. PREÇO SALGADO Apesar do sucesso de público, torcedores reclamam do preço dos ingressos. Sem tantos lugares (a capacidade é de quase 20 mil pessoas), o clube está cobrando R$ 200 pelo bilhete mais barato (sem a vantagem dos planos de fidelidade) para o confronto deste domingo.

“A Ilha do Urubu foi uma solução que encontramo­s para esse período de indefiniçã­o do Maracanã [a Odebrecht tenta devolver o estádio ao governo do Rio]. O estádio também consegue nos dar um efeito esportivo bom. Só vamos para um estádio maior, quando o jogo tiver um grande apelo de público”, disse Frazão. NA TV Flamengo x São Paulo

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