CRÍTICA Constrangedor, suspense mais parece comédia
Thriller nacional ‘Mar Inquieto’, sobre ex-viciada atormentada por terrores reais e abstratos, é festival de clichês
FOLHA
“Mar Inquieto” se vende como um filme de suspense. Mas o espectador pode querer recalibrar suas expectativas antes de ir ao cinema. Esse é um longa que mira no thriller e acerta na comédia.
Rita Guedes protagoniza a empreitada. É Anita, uma espécie de Christiane F. crescida que largou as drogas ainda jovem e hoje tenta ter uma vida média de classe média num balneário no sul do país.
Mas Anita é atormentada por terrores abstratos, como as manifestações que ouve do mar desde criança, e por outros, mais reais. Seu marido é um pústula. Anita encontra apoio e cumplicidade na vizinha enquanto sua realidade passa por um maremoto.
Há assassinatos, mortos que não estão bem mortos e sussurros sobrenaturais.
Mas o que mais abunda nesse filme é a vergonha alheia. É difícil conceber situações mais chochas e personagens mais clichês. Duvida? O marido alcoólatra, uma caricatura em 3D, chega em casa distribuindo sopapos depois de passar umas horas dormindo bêbado no bar.
Mulher pergunta para marido: “Que bicho te mordeu?”. Marido responde, com a voz empostada de um Dudu Camargo: “O bicho do tédio da infelicidade. O bicho do casamento com uma esposa estéril, sequelada de drogas”.
O roteiro é mais didático que o Telecurso 2000. O que poderia ser a guerra fria dentro de uma relação, com um amor permeado de medo e abuso, acaba soando como dramalhão deslavado.
Eri Johnson, quem diria, é o melhor ator do filme. Um jato de naturalidade num mundo de caras e bocas. Interpreta um tipo nervoso que serve bebidas na biboca local, e faz as vezes de emissário da desgraça.
As cenas com tóxicos comporiam uma excelente campanha contra o uso de drogas. Constrangedoras, parecem um esquete, e não um filme de verdade. Um “Trainspotting” de botequim.
Mas nem tudo são drogas