Bandeiras da eleição de 2014 registram refluxo
Discurso da meritocracia, adotado pela direita, perde espaço; eleitorado fica mais sensível a temas de Lula e Bolsonaro
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA
O conjunto de resultados revelados pelo Datafolha nos últimos dias mostra um dos retratos mais dramáticos expostos pela opinião pública no Brasil pós-ditadura.
Se a redemocratização no país, em seu processo de amadurecimento, foi marcada pelo mote da esperança, discurso alimentado por diferentes campanhas ao longo dos anos, o que se vê hoje é uma sociedade pautada por desalento e, especialmente, por medos.
O brasileiro teme não só a violência urbana, como bem descreveram Renato Sérgio de Lima e Arthur Trindade Maranhão Costa em análise de pesquisa Datafolha na parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgada na “Ilustríssima” de domingo (25 de junho), como também se mostram fortemente inseguros sobre as crises política e econômica que dominam o cenário.
A primeira ideia associada ao país é negativa para 81% de seus habitantes adultos e positiva para apenas 8%.
Em novembro de 2010, essas taxas correspondiam a 54% e 28%, respectivamente.
Menções à corrupção como “top of mind” do Brasil cresceram quase 20 pontos percentuais em pouco menos de sete anos e ficam oito pontos acima da média entre os mais jovens, segmento que, segundo projeto desenvolvido pelo Datafolha com o Instituto Etco, divulgado sábado (24) nesta Folha, não se enxerga agente de mudanças nesses quesitos.
Respostas como “porcaria”, “desastre”, “catástrofe”, “decepção” e “desgosto” subiram mais de 10 pontos no mesmo espaço de tempo.
A vergonha de ser brasileiro nunca foi tão alta e o pessimismo sobre a economia continua majoritário.
O descrédito sobre as instituições democráticas elevase a patamares históricos e poupa apenas os que têm por função manter a ordem e “anular o medo” —as Forças Armadas lideram em confiança e o temor da polícia, especialmente da militar, cai dez pontos.
O receio de andar pela vizinhança à noite, por outro lado, mantém-se em patamares elevados, com 60%, dados que ajudam a entender o desempenho do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) nas intenções de voto para presidente da República. LEVE REFLUXO