Geddel e aliado de Cunha prestam depoimentos
A Polícia Federal perguntou ao ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) se foi Michel Temer quem pediu R$ 10 milhões para a Odebrecht, em 2014, em um jantar no Palácio do Jaburu.
O episódio, relatado em delação por executivos da empreiteira, está sendo investigado desde abril, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou dezenas de inquéritos sobre políticos.
À PF, porém, Padilha se calou. Os delegados elaboraram 14 perguntas ao ministro.
Temer não é investigado pelo Supremo neste caso, já que a PGR (Procuradoria-Geral da República) entende que há “imunidade temporária” para o presidente em atos estranhos ao exercício de suas funções.
Segundo os delatores, o jantar aconteceu em maio de 2014 e o dinheiro foi solicitado para campanhas do PMDB. Padilha é apontado como o intermediário.
Há uma divergência, porém, na versão dos executivos da empreiteira sobre a presença de Temer no momento do acerto. Marcelo Odebrecht afirmou aos procuradores que o presidente se levantou da mesa na hora em que o valor foi firmado.
Já Claudio Melo Filho, exdiretor de Relações Instituci- onais da empreiteira, disse que Temer acompanhou a negociação.
Ambos concordam, entretanto, que o presidente tinha conhecimento.
“Confirma que nessa reunião foi reafirmado um pedido de Michel Temer para Marcelo Odebrecht relacionado a R$ 10 milhões para a campanha do PMDB?”, foi uma das perguntas da PF.
De acordo com a PGR, o episódio tem de ser investigado pela possibilidade de que o dinheiro possa ter sido doado em propina, com contra- partidas oferecidas mais tarde pelo governo.
No pedido de abertura de inquérito, a PGR indicou uma série de medidas a serem cumpridas.
A PF, no entanto, disse que não foi possível realizar todas no tempo determinado (30 dias) e pediu mais 90 dias.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se manifestou para aumentar o prazo, mas só por mais 30 dias. O ministro Edson Fachin, relator no STF, ainda não decidiu sobre o tema.
De acordo com delatores, uma parcela dos R$ 10 milhões foi entregue em um escritório de Padilha no Rio Grande do Sul a uma pessoa chamada Luciano Pavão e outra, no escritório do ex-assessor de Temer José Yunes, a uma pessoa de nome Cida.
No início do ano, quando as revelações se tornaram públicas, o Palácio do Planalto soltou uma nota confirmando que o presidente havia feito um pedido para a Odebrecht, mas que “não autorizou nem solicitou que nada fosse feito sem amparo nas regras da lei eleitoral”.
DE BRASÍLIA
Alvos do Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-ministro Geddel Vieira Lima e o empresário Altair Alves, tido como emissário ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, foram interrogados nas últimas semanas pela Polícia Federal (PF).
Na pauta, a suposta compra do silêncio de Cunha e seu operador, Lucio Funaro, pela JBS.
Segundo delação do grupo, Cunha e Funaro, presos desde o ano passado, receberam valores com o aval do presidente Michel Temer.
O tema deve ser explorado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para apresentar nova denúncia contra o presidente. Não há prazo para a nova acusação.
Os delegados perguntaram a Geddel e Alves se a “eventual compra do silêncio de Eduardo Cunha e de Lucio Funaro é do conhecimento e tem aval, direto ou indireto, do presidente Michel Temer”. Ambos mantiveram-se calados.
À PF, Funaro negou que tenha recebido dinheiro em troca de seu silêncio, mas disse que estranhou movimentações de algumas pessoas tentando sondar se ele acertaria um acordo de de- lação. Uma delas foi Geddel, segundo o operador.
Ao ex-ministro, os investigadores perguntaram se ele monitorava Cunha e Funaro por conta própria ou a mando de alguém. O operador está na Papuda (DF) desde julho do ano passado.
“O senhor fez alguma visita a Lucio Funaro na prisão? Sobre o que conversaram? Lucio Funaro mandou algum recado da prisão ao Senhor? Que recado?”, perguntaram os delegados.
Para Alves, a PF perguntou também sobre visitas na prisão ao ex-deputado, preso em Curitiba. MAIS EVIDÊNCIAS Com o interrogatório, os investigadores buscam mais elementos além da delação da JBS para juntar ao inquérito. A polícia já concluiu que Temer atuou para embaraçar investigações.
O presidente da República nega e chama a acusação de fictícia.
Os delegados entenderam com base da gravação feita por Joesley Batista no Palácio do Jaburu que a “única interpretação possível” é de que o presidente incentivou a continuação de pagamentos a Cunha para que ele ficasse em silêncio.
Cunha também foi interrogado. Respondeu apenas que não teve seu silêncio comprado, mas pediu para ver todos os documentos do processo antes de se pronunciar. (CAMILA MATTOSO)