Folha de S.Paulo

Eu tenho medo, mas eu domino o meu medo. Vou para o enfrentame­nto.

- LUIZ COSENZO

ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Mário Celso Petraglia, 73, representa a principal força política do Atlético-PR, que nesta quarta (5), às 19h15, enfrenta o Santos no jogo de ida das oitavas de final da Libertador­es, em Curitiba. Há 21 anos no clube, ele é categórico ao afirmar que o futebol brasileiro “está um lixo” e que falta “coragem aos dirigentes para mudar isso”.

Sem papas na língua, o atual presidente do Conselho Deliberati­vo do Atlético-PR afirma que a salvação é a criação de uma liga de clubes.

Com declaraçõe­s polêmicas, Petraglia colecionou inimigos e desafetos, mas também a idolatria de atleticano­s, cartolas e torcedores.

Em 1997, o dirigente apareceu em escutas em suposto esquema de venda de resultados. Uma gravação mostrava Ivens Mendes, que presidia a Conaf (Comissão Nacional de Arbitragem de Futebol), pedindo uma quantia em dinheiro para favorecer o clube paranaense em jogo contra o Vasco nas oitavas de final da Copa do Brasil. Petraglia disse na época que foi coagido por Mendes. O caso foi arquivado. Folha - Como analisa o futebol brasileiro atualmente?

Petraglia - Nosso campeonato está nivelado por baixo. A nota do nosso futebol é 3. Nós [AtléticoPR] também estamos dentro desse contexto. São muitos jogos consecutiv­os, o que atrapalha o rendimento. Jogamos de três em três dias. E qual é a solução para isso?

A formação de uma liga é a única solução. O país poderia ter a segunda liga nacional mais bem sucedida do mundo, só perdendo da inglesa. Nosso PIB (Produto Interno Bruto) é maior ou igual ao da Inglaterra [na verdade, segundo dados do Banco Mundial, o PIB do Brasil em 2016 foi 31% menor que o do Reno Unido]. É só copiar. Você acha que perderíamo­s para o Espanhol ou para a liga alemã?

O problema é que os dirigentes brasileiro­s não são unidos. Levam para as reuniões seu próprio interesse e a rivalidade. São torcedores.

Os clubes estão perdendo a chance de serem autossufic­ientes há muitos anos. Eu vejo muitos dirigentes que têm ideia parecida, mas falta coragem. Têm medo de serem prejudicad­os pela arbitragem e pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). O senhor não tem medo? O Atlético-PR é um dos fundadores da Primeira Liga. Por que o clube desistiu de disputar a competição neste ano?

Os objetivos da Primeira Liga foram deformados, deturpados, violentado­s. Era para criar um produto novo, valorizado, com os principais clubes brasileiro­s do Rio, Curitiba e Minas Gerais, e diminuir os Estaduais, que estão falidos, liquidados. Mas a força da CBF em relação ao calendário e da Globo nos liquidou e os clubes se renderam.

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