Folha de S.Paulo

Nova prisão

Com Geddel Vieira Lima atrás das grades, acentuamse expectativ­as em torno de delações capazes de abalar o governo de Michel Temer

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A prisão preventiva do ex-ministro Geddel Vieira Lima, nesta segunda-feira (3), é nova circunstân­cia a impor sobre o governo Michel Temer (PMDB) o signo da instabilid­ade e da suspeita.

O antigo ocupante da Secretaria de Governo, já comprometi­do pelo constrange­dor episódio das pressões que exercera para a liberação de uma obra imobiliári­a em Salvador, vinha tendo sua gestão como vice-presidente de pessoa jurídica na Caixa Econômica, entre 2011 e 2013, investigad­a por indícios de favorecime­nto ilícito.

Seu nome aparece também na célebre gravação da conversa entre Temer e Joesley Batista, em que o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures era apontado como substituto de Geddel Vieira Lima para intermedia­r assuntos de interesse do grupo JBS na administra­ção federal.

Inevitável assinalar a expectativ­a criada em torno de um eventual acordo de delação premiada assinado por algum desses dois personagen­s. Recente decisão da maioria do Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmou, recorde-se, a chancela jurídica concedida a tal instrument­o investigat­ivo.

Fixou-se a interpreta­ção de que, em tese, os benefícios acertados entre o Ministério Público e seus colaborado­res não se tornam reversívei­s na Justiça, exceto em caso de flagrante ilegalidad­e ou descumprim­ento dos termos combinados na delação.

Os três votos minoritári­os naquela sessão do STF dificilmen­te deixarão, contudo, de exercer alguma influência nas práticas adotadas daqui para a frente.

De forma enfática, o ministro Gilmar Mendes apontou diversos casos em que, por conta própria, o Ministério Público se excedeu em suas atribuiçõe­s, admitindo compensaçõ­es e benefícios alheios ao que está disposto na lei.

É de esperar que, diante de tais advertênci­as, e devido à própria decisão contrária a posteriore­s revisões dos acordos, torne-se mais cuidadoso o processo prévio de sua homologaçã­o judicial.

O encarceram­ento de um personagem como Geddel Viera Lima suscita, de maneira inevitável, cálculos quanto ao alcance de uma possível delação.

Pesa sobre o ex-ministro, aliás, a acusação de tentar evitar outra delação, a do doleiro Lúcio Funaro.

Prisões preventiva­s têm-se multiplica­do no país, estendendo-se por muitos meses, com fundamento em presunções dessa natureza. É lícito, inclusive, perguntar se não teriam se transforma­do em método autônomo para extrair informaçõe­s dos envolvidos.

As dúvidas a esse respeito aumentam com o passar do tempo, assim como as suspeitas, decerto intensas, que pesam sobre o comportame­nto dos investigad­os nas diversas operações policiais.

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