Folha de S.Paulo

Há de existir outro jeito

-

RIO DE JANEIRO - “Perdemos mais uma aluna hoje, no Lins. Uma menina de 11 anos. Mais uma vez, tiroteio entre policiais e criminosos. Essas operações policiais não valem a pena. Por favor, entendam isso: essas operações policiais não valem a pena. Tem de ter outro jeito.”

Publicado em rede social, o desabafo de Cesar Benjamin, secretário municipal de Educação do Rio, é representa­tivo do desânimo que abate os cariocas a cada nova morte como a de Vanessa dos Santos. Ela levou um tiro na cabeça, na porta de casa, numa favela da zona norte, na terça (4).

Poucos dias antes dela, a vítima foi uma criança que ainda estava na barriga de sua mãe. Baleada em condições similares, corre risco de vida e deve ficar paraplégic­a.

É difícil não sentir impotência diante desse tipo de tragédia anunciada. Já se sabia que a falência do Estado, quebrado pelo PMDB, teria efeitos particular­mente perversos na segurança pública. O vácuo deixado nos morros pelo enfraqueci­mento das Unidades de Polícia Pacificado­ras abriu caminho para novas disputas de traficante­s por território.

A polícia, por sua vez, retomou a política de confrontos, cuja ineficácia já ficou comprovada. O único resultado prático são mortes de todos os lados: moradores, policiais e bandidos.

Estou sempre voltando a “Notícias de Uma Guerra Particular”, documentár­io rodado há 20 anos e ainda a melhor análise sobre a violência carioca.

“Você acha que a ação de vocês soluciona alguma coisa?”, pergunta o diretor João Moreira Salles ao então capitão Rodrigo Pimentel, do Bope. “De forma alguma. São 500 favelas no Rio e somente um batalhão de operações especiais. A ação da polícia não pode vir a trazer um bom resultado”, responde o policial.

“É uma guerra sem fim. Quase toda noite o Bope matava um traficante, apreendia um fuzil. Resolvia alguma coisa? Não resolvia nada.” marco.canonico@grupofolha.com.br MATIAS SPEKTOR

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil