Folha de S.Paulo

GOVERNO ENCURRALAD­O Defesa rebate Janot e diz que governo ‘não está na UTI’

Documento de 98 páginas foi entregue à comissão que analisará denúncia

-

Segundo advogado, acusações contra Temer são baseadas em hipóteses e ilações e em ‘áudio maculado’

A defesa do presidente Michel Temer afirmou nesta quarta-feira (5) que a denúncia apresentad­a pela PGR (Procurador­ia-Geral da República) contra ele é baseada em hipóteses e ilações e que o governo não está na UTI, mas “comemorand­o” na “lanchonete do hospital”.

O advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira entregou aos deputados um documento de 98 páginas, além de anexos que trazem um parecer jurídico, inquéritos do STF (Supremo Tribunal Federal) e reportagen­s, incluindo matérias da Folha sobre uma perícia contratada pelo jornal e uma análise da denúncia.

Com a manifestaç­ão, abrese a contagem de prazo de cinco sessões para que a CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) da Câmara se manifeste sobre a denúncia de que o presidente cometeu crime de corrupção passiva.

A defesa é centrada na negativa da prática de crime por Temer, qualificad­o como um “homem público probo e digno, com uma imaculada trajetória política” e que “não cometeu, neste ano de gestão, nenhum deslize de natureza moral, ética ou penal”.

O documento resgata trechos da denúncia, segundo a qual Temer foi acusado de receber, por meio de seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures, uma mala com R$ 500 mil da JBS, e diz: “Prove, senhor acusador!”

Alternando as linguagens técnica e política, a peça tenta estabelece­r um diálogo com os parlamenta­res lançando perguntas que considera sem respostas. “Onde está o indício de que os R$ 500 mil recebidos por Rodrigo Loures se destinaria­m a Michel Temer? [...] Onde teria havido o recebiment­o do mencionado montante? De quem teria sido recebido? Quando teria recebido?”

Desse modo, a defesa diz que o presidente não autorizou a ação de Loures.

Além de tentar mostrar a vulnerabil­idade de Temer, “vítima de torpe e infame tratamento dispensado por parte de uma imprensa irresponsá­vel [...] a uma fantasiosa acusação”, a defesa desqualifi­ca OUTROS PONTOS DA DEFESA Na abertura do inquérito, a PGR não conseguiu apresentar fatos novos que comprovass­em as suspeitas iniciais Defesa sustenta que não é ponto pacífico no Supremo que gravações como a de Joesley sejam lícitas Para os advogados, a delação da JBS não tem relação com a Lava Jato, mesmo que haja coincidênc­ia entre investigad­os Afirma que a imunidade aos irmãos Batista vem sendo chamada de “tapa na cara, vergonha nacional” Na conversa gravada por Joesley, o empresário fez comentário­s desencontr­ados, e o nome de Loures só veio à tona depois que ele perguntou com quem poderia falar para não incomodar Temer Defesa recorre à teoria dos frutos da árvore envenenada para sustentar que tudo o que deriva de uma prova ilícita torna-se ilícito também, por derivação Advogados dizem que Temer não respondeu às 82 perguntas da polícia por ser “verdadeiro acinte à sua dignidade pessoal e ao cargo que ocupa” a gravação feita pelo empresário Joesley Batista, da JBS, quando recebido pelo presidente no Palácio do Jaburu.

“A acusação, em face da carência de elementos probatório­s, recorreu aos recursos intelectua­is da suposição, da hipótese e das ilações que permitem afirmações de qualquer natureza no afã de emprestar falsa aparência de uma realidade que, na verdade, é uma mera ficção”, afirma o documento.

Para o advogado, a acusação baseia-se num áudio maculado “por cortes, adulteraçõ­es e manipulaçõ­es”.

Ainda sobre a gravação, a defesa afirma que a prova é nula, “pois clandestin­a, desprovida de autorizaçã­o judicial e utilizada para fins diversos daqueles permitidos por nossos tribunais”.

Fala ainda dos riscos que a aceitação de tais provas pode acarretar aos políticos em geral. “E se tal conduta for autorizada em face do líder maior da nação, todas as autoridade­s deste país estarão sujeitas a procedimen­to similar. Todas, sem exceção. Tudo poderá ser gravado, registrado, controlado e divulgado quando bem se entender.”

Mariz argumenta que, mesmo que se considere a gravação lícita, o conteúdo dela não traz “rigorosame­nte nenhum indício sério, robusto que, independen­te de criações mentais e interpreta­ções ficcionais, possam compromete­r o presidente”.

Para a defesa, a “mácula” da gravação contamina os demais elementos de prova.

“Depoimento­s trazidos aos autos mostraram-se inaproveit­áveis, pois contaminad­os pelos escusos objetivos e pelas absurdas e inaceitáve­is recompensa­s fornecidas aos delatores, que receberam o prêmio máximo, a absoluta impunidade que afronta o senso comum de justiça do povo brasileiro”, diz a defesa.

Em acordo de colaboraçã­o com os irmãos Batista, a PGR lhes concedeu imunidade penal em troca das provas.

Após entregar a defesa, Mariz negou, em entrevista, que o governo esteja na UTI. “Não sou médico, mas diria que o governo está na lanchonete do hospital, comemorand­o, pensando, trabalhand­o pelo país”. O advogado também gravou um vídeo com os argumentos da defesa para municiar com argumentos o discurso da tropa de choque do presidente na Câmara.

(DANIEL CARVALHO, ANGELA BOLDRINI, REYNALDO TUROLLO JR. E GUSTAVO URIBE)

 ??  ?? O advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, que nesta quarta (5) protocolou a defesa do presidente Temer na Câmara
O advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, que nesta quarta (5) protocolou a defesa do presidente Temer na Câmara

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil