Escândalos citam chefes locais do PMDB
Presidentes de diretórios estaduais do partido são investigados em diversas operações; 2 são réus e 2 estão presos
Mesmo na cadeia, Alves e Geddel continuam comandando a sigla em seus Estados; renovação ocorre de forma lenta
Após afastar-se do ministério do presidente Michel Temer (PMDB), Geddel Vieira Lima recolheu-se em casa, mas não deixou de fazer política. À frente do diretório do PMDB da Bahia, lidava com a máquina burocrática do partido, que comanda mais 40 prefeituras no Estado.
Na segunda (3), Geddel foi preso na Operação Cui Bono?, sob acusação de obstrução da Justiça. Licenciou-se do cargo, mas continua como presidente do PMDB da Bahia.
Não é um caso único: Henrique Eduardo Alves, preso há um mês pela Lava Jato, também segue como presidente do diretório do partido no Rio Grande do Norte. Oficialmente, o baiano e o potiguar estão licenciados, mas continuam respondendo legalmente pelo partido.
Além de Geddel e Alves, outros oito gestores estaduais do PMDB são investigados por suspeitas de corrupção.
Um deles passou pela cadeia este ano: Tadeu Filippelli, ex-assessor de Temer e presidente do PMDB no Distrito Federal, foi preso provisoriamente em maio sob acusação de superfaturamento do estádio Mané Garrincha.
Outros dois comandantes do partido nos Estados são réus em processos por corrução: o senador Renan Calheiros, que comanda o diretório de Alagoas, e o senador Valdir Raupp, de Rondônia.
O presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, foi alvo de condução coercitiva na operação O Quinto de Ouro.
Ele também responde a inquérito por suspeita de enriquecimento ilícito.
Já os senadores Jader Barbalho (PA), Romero Jucá (RR), Eunício Oliveira (CE) e Eduardo Braga (AM), que comandam o PMDB em seus respectivos Estados, são alvos de inquéritos que investigam denúncias de corrupção, a maioria delas na Lava Jato.
Ainda há, pelo menos, dois casos de dirigentes regionais do PMDB que não são investigados, mas foram citados em delações premiadas: o vicegovernador Antônio Andrade, que comanda o PMDB mineiro, e o deputado federal Baleia Rossi, de São Paulo.
Andrade foi citado na delação da Odebrecht por supostamente ter recebido recursos de caixa 2. Ele nega.
Já Baleia Rossi foi citado na delação do marqueteiro Duda Mendonça, que afirmou que uma empresa da família do deputado teria recebido recursos de caixa 2.
O deputado nega e diz que “nunca houve uma conversa entre os dois sobre nenhum assunto”. RENOVAÇÃO No Distrito Federal, o senador Hélio José, que recentemente foi punido com a perda de cargos por votar contra a reforma trabalhista, afirma que a prisão de Filippelli foi “um constrangimento” e defende renovação.
“Eu creio que ele, no mínimo, deveria pedir afastamento do partido. Uma mudança seria muito salutar”, diz o senador.
Na Bahia, o PMDB está sob o comando de Geddel e de seu irmão Lúcio Vieira Lima desde os anos 1990. Com a prisão de Geddel, o vice-presidente do partido, deputado estadual Pedro Tavares (PMDB), assumiu interinamente o partido.
Um dos quatro deputados da bancada do PMDB na Assembleia Legislativa, Hildécio Meireles afirma que é precipitado falar em mudança no comando do partido na Bahia. Contudo diz que, independente da prisão de Geddel e do seu desfecho, o partido deve se oxigenar.
“Neste momento, temos que respeitar a situação delicada que Geddel e sua família enfrentam. Mas, quando passar esta fase, nós filiados termos que ter a prerrogativa de reestruturar o partido”, afirma, destacando que as mudanças devem acontecer “de forma natural”.
Já no Rio Grande do Norte, a tendência é partido continue nas mãos da família Alves a partir de novembro, quando haverá eleição interna.
Com a prisão de Henrique Eduardo, o partido vem sendo tocado pelo vice-presidente, o deputado federal Walter Alves (PMDB). Ele é filho do senador Garibaldi Alves (PMDB), primo de Henrique.
Walter Alves afirma que não há constrangimento em Henrique Eduardo continuar como presidente do partido, mesmo estando preso.
“É uma situação difícil, mas os filiados têm compreendido”, declara.