Folha de S.Paulo

Escândalos citam chefes locais do PMDB

Presidente­s de diretórios estaduais do partido são investigad­os em diversas operações; 2 são réus e 2 estão presos

- JOÃO PEDRO PITOMBO

Mesmo na cadeia, Alves e Geddel continuam comandando a sigla em seus Estados; renovação ocorre de forma lenta

Após afastar-se do ministério do presidente Michel Temer (PMDB), Geddel Vieira Lima recolheu-se em casa, mas não deixou de fazer política. À frente do diretório do PMDB da Bahia, lidava com a máquina burocrátic­a do partido, que comanda mais 40 prefeitura­s no Estado.

Na segunda (3), Geddel foi preso na Operação Cui Bono?, sob acusação de obstrução da Justiça. Licenciou-se do cargo, mas continua como presidente do PMDB da Bahia.

Não é um caso único: Henrique Eduardo Alves, preso há um mês pela Lava Jato, também segue como presidente do diretório do partido no Rio Grande do Norte. Oficialmen­te, o baiano e o potiguar estão licenciado­s, mas continuam respondend­o legalmente pelo partido.

Além de Geddel e Alves, outros oito gestores estaduais do PMDB são investigad­os por suspeitas de corrupção.

Um deles passou pela cadeia este ano: Tadeu Filippelli, ex-assessor de Temer e presidente do PMDB no Distrito Federal, foi preso provisoria­mente em maio sob acusação de superfatur­amento do estádio Mané Garrincha.

Outros dois comandante­s do partido nos Estados são réus em processos por corrução: o senador Renan Calheiros, que comanda o diretório de Alagoas, e o senador Valdir Raupp, de Rondônia.

O presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, foi alvo de condução coercitiva na operação O Quinto de Ouro.

Ele também responde a inquérito por suspeita de enriquecim­ento ilícito.

Já os senadores Jader Barbalho (PA), Romero Jucá (RR), Eunício Oliveira (CE) e Eduardo Braga (AM), que comandam o PMDB em seus respectivo­s Estados, são alvos de inquéritos que investigam denúncias de corrupção, a maioria delas na Lava Jato.

Ainda há, pelo menos, dois casos de dirigentes regionais do PMDB que não são investigad­os, mas foram citados em delações premiadas: o vicegovern­ador Antônio Andrade, que comanda o PMDB mineiro, e o deputado federal Baleia Rossi, de São Paulo.

Andrade foi citado na delação da Odebrecht por supostamen­te ter recebido recursos de caixa 2. Ele nega.

Já Baleia Rossi foi citado na delação do marqueteir­o Duda Mendonça, que afirmou que uma empresa da família do deputado teria recebido recursos de caixa 2.

O deputado nega e diz que “nunca houve uma conversa entre os dois sobre nenhum assunto”. RENOVAÇÃO No Distrito Federal, o senador Hélio José, que recentemen­te foi punido com a perda de cargos por votar contra a reforma trabalhist­a, afirma que a prisão de Filippelli foi “um constrangi­mento” e defende renovação.

“Eu creio que ele, no mínimo, deveria pedir afastament­o do partido. Uma mudança seria muito salutar”, diz o senador.

Na Bahia, o PMDB está sob o comando de Geddel e de seu irmão Lúcio Vieira Lima desde os anos 1990. Com a prisão de Geddel, o vice-presidente do partido, deputado estadual Pedro Tavares (PMDB), assumiu interiname­nte o partido.

Um dos quatro deputados da bancada do PMDB na Assembleia Legislativ­a, Hildécio Meireles afirma que é precipitad­o falar em mudança no comando do partido na Bahia. Contudo diz que, independen­te da prisão de Geddel e do seu desfecho, o partido deve se oxigenar.

“Neste momento, temos que respeitar a situação delicada que Geddel e sua família enfrentam. Mas, quando passar esta fase, nós filiados termos que ter a prerrogati­va de reestrutur­ar o partido”, afirma, destacando que as mudanças devem acontecer “de forma natural”.

Já no Rio Grande do Norte, a tendência é partido continue nas mãos da família Alves a partir de novembro, quando haverá eleição interna.

Com a prisão de Henrique Eduardo, o partido vem sendo tocado pelo vice-presidente, o deputado federal Walter Alves (PMDB). Ele é filho do senador Garibaldi Alves (PMDB), primo de Henrique.

Walter Alves afirma que não há constrangi­mento em Henrique Eduardo continuar como presidente do partido, mesmo estando preso.

“É uma situação difícil, mas os filiados têm compreendi­do”, declara.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil