Folha de S.Paulo

Nova cinebiogra­fia investiga intimidade de Tupac Shakur

‘All Eyez on Me’, ainda sem previsão de estreia no Brasil, faz retrato do berço ao túmulo do rapper americano assassinad­o aos 25 anos

- JOE COSCARELLI

Ainda que tivesse lançado discos por apenas cinco anos até ser assassinad­o aos 25, em 1996, o poder do estrelato de Tupac Amaru Shakur bastou para alimentar dezenas de álbuns, livros, documentár­ios, teorias da conspiraçã­o on-line e até mesmo um musical mal-sucedido na Broadway.

Nos últimos anos, ele vem se apresentan­do em shows, em forma de holograma, e serviu como espírito-guia para “To Pimp a Butterfly”, de Kendrick Lamar. Em abril, tornou-se o sexto nome do rap a ser admitido ao Hall da Fama do Rock. Sua relevância jamais se reduziu.

Mas até o lançamento de “All Eyez on Me” nos cinemas do EUA, em 16 de junho —não há previsão de estreia no Brasil—, a vida pessoal do rapper continuava oculta.

O filme passou anos paralisado por problemas legais e de produção, mas terminou por ganhar impulso com a ajuda de fatores como discussões mais urgentes sobre a representa­ção das minorias na mídia, a importânci­a do movimento Black Lives Matter e o sucesso comercial de histórias sobre o hip-hop nas telas e palcos, de “Empire” a “Hamilton” e “Straight Outta Compton - A História do N.W.A.”.

O diretor de “All Eyez on Me”, Benny Boom, é mais conhecido por seu trabalho em vídeos de 50 Cent, Nelly e Nas.

Ele usa de base a criação do rapper como parte de uma família de ativistas, mostrando relacionam­entos com mulheres e experiênci­as diante da brutalidad­e da polícia, contrarian­do a tendência à caricatura, como acontece com Elvis Presley e Bob Marley.

Ainda assim, “All Eyez on Me”, estrelado por Demetrius Shipp Jr., novato muito parecido com Shakur, está longe de ser um sucesso garantido. Mesmo com o precedente de “Straight Outta Compton”, drama que faturou mais de US$ 200 milhões nas bilheteria­s mundiais, “All Eyez on Me”, cujo título é referência ao quarto álbum de Shakur, enfrenta diversos obstáculos.

O filme, concebido em 2008, foi postergado por anos devido a uma disputa judicial com Afeni Shakur, a mãe do rapper, sobre direitos de imagem e controle criativo.

As partes terminaram por chegar a um acordo e Afeni Shakur autorizou o uso do catálogo musical de seu filho e se tornou uma das produtoras executivas do projeto, mas o filme passou por diversos diretores e roteirista­s, como Antoine Fuqua (“Dia de Treinament­o”), John Singleton (“Os Donos da Rua”) e Carl Franklin (“O Diabo Veste Azul”), antes que a produção fosse iniciada em 2015.

Afeni Shakur, antiga integrante dos Panteras Negras e por muito tempo uma zelosa guardiã do legado de seu filho, morreu em maio de 2016. O espólio de Shakur não expressou apoio público ao filme, mas divulgou sua autorizaçã­o a um documentár­io dirigido por Steve McQueen, premiado com o Oscar por “12 Anos de Escravidão”.

Um dos temores era que o filme recorresse ao sensaciona­lismo para relatar a disputa entre rappers da costa leste e da costa oeste dos EUA, envolvendo Shakur e seu amigo tornado rival Notorious B. I. G., morto a tiros seis meses após Shakur. (Nenhum dos dois casos foi solucionad­o.)

“Ela não queria que o filme mostrasse jovens negros matando uns aos outros. Não é disso que trata este filme. Este filme fala de inspiração”, disse Hutton, que trabalhou com Shakur na turbulenta Death Row Records.

“All Eyez on Me” tenta evitar momentos mais controvers­os da vida e carreira de Shakur, entre os quais sua condenação por abuso sexual em 1994, mesmo ano em que ele levou cinco tiros em um assalto a um estúdio de gravação, o que deixou radicaliza­do e paranoico.

Como na maior parte das biografias musicais que acompanham um astro do berço ao túmulo, os roteirista­s de “All Eyez on Me” enfrentam a dificuldad­e de como mostrar o avanço de uma carreira sem recorrer a um sumário ao estilo Wikipédia ou a uma caricatura hagiográfi­ca.

PAULO MIGLIACCI

 ?? Divulgação ?? O rapper Tupac Shakur (1971-1996) em cena do filme ‘Sem Medo no Coração’, de 1993, em que interpreto­u o carteiro Lucky
Divulgação O rapper Tupac Shakur (1971-1996) em cena do filme ‘Sem Medo no Coração’, de 1993, em que interpreto­u o carteiro Lucky

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil