Folha de S.Paulo

Grupo dá voz à periferia em reggae poético

Referência na zona sul de SP, Veja Luz soma rap e jazz em 2º álbum e alça voos mais altos

- RAFAEL GREGORIO

A zona sul de São Paulo fala alto em “Escolhas”, segundo disco do grupo Veja Luz.

Produzido pela banda e distribuíd­o pela YB, o álbum mostra que o grupo de Taboão da Serra —há nove anos no “corre”— reforçou com rap, MPB e até jazz seu som urbano, de sotaque poético e paulistano.

“Nos conhecemos no Pirajussar­a, uma turma que se via pra tomar vinho e ouvir reggae”, diz o baixista Marcus Rosa, 37, citando uma praça na cidade contígua a São Paulo.

Ali, nas rodinhas de violão, o grupo conheceu o vocalista Fernando Novaes, 29, o Fino, caçula da banda cujo músico mais velho tem 42 anos.

Contrarian­do o clichê, o Veja Luz não cita como referência primeira Bob Marley (19451981) ou Peter Tosh (19441987), mas o Steel Pulse.

O grupo inglês é associado ao roots reggae —vertente de letras cronistas e (ainda mais) conectadas à religião rastafári. Também é creditado por uma primeira miscigenaç­ão do som propagado a partir da Jamaica nos anos 1960 e 70. “A gente comeu com farinha os discos deles”, narra Rosa.

Ele e Fino assinam as composiçõe­s, em um contrapont­o meio Lennon/McCartney no qual Rosa responde pelas palavras “mais ríspidas e críticas”, e o colega, pela “onda mais good vibe, meio zen”.

Nessa veia eclética, o disco equilibra bem uma versão de “O Que Será (À Flor da Terra)”, de Chico Buarque —que ouviu e gostou—, versos inspirados de Black Alien em “Dignidade” e uma harmonia com ares de rock progressiv­o em “Is True Man Town”.

Também participam Al Griffiths, do grupo The Gladiators, e o músico e radialista Jai Mahal, 56, um dos difusores do gênero no Brasil.

“Eles têm um som inteligent­e, o timbre do Fi é legal, e as letras são observador­as, não ficam no rastafári genérico. Têm bom gosto”, diz Mahal.

Tal diferencia­l lírico advém da conexão entre rap e poesia na zona sul, sintetizad­a na Cooperifa, iniciativa poética de Sérgio Vaz que fomentou réplicas do teatro ao cinema.

Foi assim com o Veja Luz, que em uma encarnação inicial, intitulada Varal Roots, fez seu primeiro show no Bar do Binho, outro norte da região.

“O rap nos deu a percepção de que a gente pode mudar nossa realidade e a das pessoas à nossa volta pelo poder da palavra”, afirma Rosa.

Vaz, 53, cuja voz abre o disco, diz que o Veja Luz “pega o que está nas ruas e traduz de volta para alimentar a comunidade. É o reggae de favela”.

A ser lançado nesta sexta (7), o álbum pode ser ouvido com exclusivid­ade em folha. com/vejaluz, e deve ser lançado em show em agosto. ARTISTA Veja Luz GRAVADORA Independen­te ONDE iTunes (R$ 13), Spotify e Deezer MÚSICA NA VOZ DELAS Apresentan­do sete cantoras que interpreta­m canções de épocas específica­s, como “Vogue” e“Dusty in the Wind”, o programa retorna para sua 4ª temporada. Canal Bis, 19h, livre CULINÁRIA TEMPERO DE FAMÍLIA No litoral da Paraíba, a cidade de Acaú é polo de pesca de mariscos. É lá que o apresentad­or Rodrigo Hilbert vai catar o molusco com as marisqueir­as da cidade para depois preparar receitas com as iguarias, como purê de castanha e caldinho de mariscos. GNT, 20h, 10 anos FILME E AÍ... COMEU? No longa dirigido por Felipe Joffily, três amigos passam por fases diferentes em seus relacionam­entos: Fernando tenta lidar com um divórcio; Honório desconfia de uma traição de sua mulher; e Afonsinho quer vencer seu bloqueio com namoros. Canal Brasil, 22h, 14 anos

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Wlad Raeder/Divulgação Rosa, ‘Fino’, Marcelo ‘Caverna’, Fernando Rangel e Mauricio ‘Cebola’, do Veja Luz; Cooperifa é uma das influência­s

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