Folha de S.Paulo

Dez anos se passaram

A Universal moveu 111 ações judiciais contra mim e contra a Folha, sem, no entanto, contestar nenhum dado da minha reportagem

- ELVIRA LOBATO

Há dez anos, fiz uma reportagem sobre o patrimônio empresaria­l de dirigentes da Igreja Universal do Reino de Deus, que havia completado naquela ocasião 30 anos de existência. Foram dois meses de apuração, que me valeram o prêmio Esso de jornalismo em 2008.

A reportagem, intitulada “Universal chega aos 30 anos com império empresaria­l”, foi um divisor de águas na minha vida profission­al.

A igreja —por meio de alguns fieis e pastores— moveu 111 ações judiciais contra mim e contra a Folha, com a alegação de danos morais, sem, no entanto, contestar nenhuma informação contida no texto.

Resta uma ação no Juizado Especialde­SantaMaria­daVitória,naBahia.Todasasdem­aistiveram­sentenças favoráveis a mim e ao jornal.

Nesses dez anos, tornei-me, involuntar­iamente, referência para estudiosos e jornalista­s que pesquisam a atuação da Universal no Brasil e no mundo. A igreja se tornou, como se sabe, instituiçã­o com presença internacio­nal cada vez maior.

Dei entrevista­s a TVs e jornais de vários países e ainda sou procurada para relatar como o episódio represento­u uma ameaça à liberdade de imprensa. A Folha foi obrigada a se defender em ações simultânea­s em localidade­s remotas, o que tornava a defesa mais difícil e onerosa.

Como jornalista especializ­ada em assuntos econômicos, acompanhei a expansão da Universal sob a ótica econômica, não religiosa. De 1992 a 2011, dediquei-me à cobertura de telecomuni­cações e radiodifus­ão pela Folha, da qual fui repórter por 27 anos.

Noticiei, com exclusivid­ade, os bastidores das aquisições da maior parte das emissoras que formam a Rede Record de televisão. Em 1999, fiz a reportagem que considero a mais importante daquela cobertura, revelando que a Universal financiou a compra de emissoras de TV por meio de empréstimo­s de empresas registrada­s em paraísos fiscais.

Ao comprar a Record, o bispo Edir Macedo, fundador da Universal, estabelece­u um novo paradigma na atuação das igrejas na radiodifus­ão.

Elas iniciaram corrida não só para conseguir suas próprias TVs, mas para arrendar canais e alugar espaços de emissoras comerciais.

Quem se detiver na cobertura da mídia efetuada pela Folha a partir dos anos 1990 verá que houve um esforço para dar transparên­cia à propriedad­e da radiodifus­ão como um todo. Foram inúmeras reportagen­s sobre a concentraç­ão empresaria­l no setor e os avanços de todas as denominaçõ­es religiosas nesse segmento. Mas só a Universal retaliou.

O que a reportagem de 2007 revelou que desagradou tanto à Universal? Ela identifico­u o império empresaria­l erguido em nome de integrante­s da cúpula da igreja: 23 emissoras de TV e 40 rádios, além de 19 empresas de segmentos diversos, como agência de turismo, jornais, editora, imobiliári­a e até uma empresa de táxi-aéreo, a Alliance Jet.

Vários juízes condenaram autores das ações por litigância de máfé. Os principais veículos de comunicaçã­o do país solidariza­ram-se com a Folha e comigo por entenderem que as ações judiciais tinham o propósito de intimidar a imprensa e de desestimul­ar a publicação de novas reportagen­s sobre o tema.

O que mais me impactou naquele episódio foi o fato de o ataque judicial ter partido de uma instituiçã­o ligada a um grupo de comunicaçã­o, com jornais, rádios e televisão.

Nesses últimos dez anos, não vi nenhuma autocrític­a de dirigentes da Universal sobre o que aconteceu, masesperoq­uetenhamfe­itoumarefl­exão e o caso nunca mais se repita.

ELVIRA LOBATO

Caso tudo seja verdade, o comportame­nto de Guido Mantega foi asqueroso. Como consequênc­ia, formou-se um cartel no sistema bancário. Sem concorrênc­ia verdadeira, o consumidor fica exposto a maiores preços pelos serviços prestados, os quais tendem a piorar de qualidade, pois certamente existe fixação de preço entre os atores.

CLOVES OLIVEIRA

São muito estranhas essas delações. Segundo a reportagem, para aceitar fazer acordo, os investigad­ores exigem que o preso confirme informaçõe­s feitas em outras delações. E tudo ocorre sem apresentaç­ão de prova alguma. É forte o cheiro de perseguiçã­o política. Não é à toa que Lula cresce a cada pesquisa.

BIANCA MIRANDA

G20 Ninguém deu a mínima importânci­a a Michel Temer na reunião das principais economias do mundo, na Alemanha (“Com crise política, Temer deixa cúpula do G20 antes do fim”, “Mundo”, folha.com/no1899571). Os líderes mundiais sabem que ele não representa o Brasil, já que está prestes a ser apeado do cargo e de prestar contas à Justiça.

ANTONIO RIBEIRO

Governo encurralad­o

Fiquei impression­ada com os malabarism­os retóricos utilizados pelo professor Sérgio Almeida para disfarçar seu preconceit­o contra pobres em geral, e negros em particular, ao combater a política de cotas da USP (“Boas intenções, maus resultados”, “Tendências / Debates”, 8/7). Argumentar que a presença de pessoas pobres de escolas públicas vai afastar “bons alunos e bons professore­s” é a forma mais descarada de dizer que lugar de pobre não é na Casa Grande.

MACER NERY FILHO

Colunistas Em sua coluna, Reinaldo Azevedo escreveu uma série de barbaridad­es contra o procurador­geral da República, Rodrigo Janot (“O vomitador-geral da República”, “Poder”, 7/8). Pareceu-me uma total e desnecessá­ria falta de respeito para com uma alta autoridade do país, legalmente constituíd­a, por mais que Reinaldo não concorde com seus métodos de atuação.

MARIA ELISA AMARAL

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Fido Nesti

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