Folha de S.Paulo

São Paulo gasta R$ 900 mil por mês com pensão aos veteranos de 1932

Benefício vitalício é concedido a 1.400 combatente­s e parentes; movimento completa 85 anos

- FELIPE BÄCHTOLD

Maioria das pensões é de R$ 720 mensais; levante contra Vargas queria forçar redação de nova Constituiç­ão

A Revolução Constituci­onalista completa 85 anos neste domingo (9), e o Estado de São Paulo recebe até hoje pedidos de reparação.

Mais de 1.400 pessoas ganham atualmente pensão vitalícia do governo de São Paulo em decorrênci­a da revolta.

Uma lei de 1978 determina o pagamento pelo Estado da pensão a “participan­tes civis da revolução”, que soma despesas ao Estado de cerca de R$ 900 mil ao mês —em 2016 foram pagos R$ 13,2 milhões. A maioria dos benefícios pagos pelo Estado tem o valor de R$ 720 mensais.

Segundo a Secretaria da Fazenda, entre os beneficiár­ios, há 62 combatente­s e 1.377 viúvas e dependente­s dos veteranos que atuaram na revolução.

Em caso de morte do beneficiár­io, a pensão é repassada à viúva. Filhas solteiras de participan­tes da Revolução que morreram até 1992 também recebem.

A sociedade Veteranos de 32/MMDC, que promove eventos em memória ao movimento, contabiliz­a 18 exparticip­antes da Revolução ainda vivos.

O presidente da entidade, Mário Ventura, diz que são idosos de saúde muito frágil.

A entidade, fundada em 1954, atualmente é integrada em sua maioria por descendent­es dos combatente­s.

Hoje, essa associação é uma das principais fontes de informaçõe­s para uma comissão do governo estadual que analisa os pedidos de pensão encaminhad­os. A mais recente solicitaçã­o foi protocolad­a em maio deste ano.

Integrante­s da comissão, que incluem uma procurador­a da Procurador­ia-Geral do Estado, checam documentos históricos, como os do Arquivo Público, de museus e biblioteca­s pelo Estado, para identifica­r se a pessoa foi incluída em relações de participan­tes da revolução.

Com base nessas informaçõe­s, a comissão, hoje ligada à Secretaria da Fazenda, dá um parecer deferindo ou não o pedido.

Em fevereiro e março deste ano, despachos do próprio governador Geraldo Alckmin (PSDB), com base nesses relatórios, reconhecer­am cinco pedidos de pensão especial e negaram outros quatro.

Um dos casos deferidos foi o de Margaret Simões, 69, cujo pai lutou em Santos. Ela disse que o trâmite pelo reconhecim­ento demorou dois anos e que foi necessário apresentar documentos de alistament­o do pai da época.

“Eu tinha muita coisa. Minha mãe guardava tudo, então não foi difícil de providenci­ar”, conta.

Uma determinaç­ão de 2009 estabelece o recadastra­mento anual do beneficiár­io, sob pena de perda da pensão.

As forças de São Paulo na revolução reuniram cerca de 35 mil combatente­s.

O movimento estourou em 9 de julho de 1932, com o objetivo de derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas, que havia chegado ao poder dois anos antes, e levar à convocação de uma Assembleia Constituin­te.

A revolta acabou depois de três meses, com a rendição das tropas paulistas. CONCESSÃO DE TERRAS A política do governo do Estado de conceder benefícios aos veteranos de 1932 vem de longe.

Em 1948, já tinha sido editada uma lei prevendo a doação de lotes de terras públicas aos ex-combatente­s e também para integrante­s da Força Expedicion­ária Brasileira, de São Paulo, na Segunda Guerra.

Os mutilados ganharam preferênci­a para entrar no serviço público.

O texto dizia que era obrigatóri­o comprovar a participaç­ão na revolução e vetava casos em que tenha havido “capitulaçã­o propositad­a” ou “adesão ao inimigo”.

A lei dos anos 1970 foi regulament­ada abrangendo “voluntário­s de serviços de guerra” e civis que atuaram na “retaguarda”, em serviços como abastecime­nto de tropa ou propaganda.

A Constituiç­ão Estadual reafirma o direito.

O último reajuste no benefício foi concedido em 2012, quando o governador disse que a iniciativa era uma “merecida homenagem aos heróis paulistas”.

O deputado estadual Roberto Massafera (PSDB) propôs em 2014 um novo aumento, que não foi levado adiante pelo Estado.

“É uma questão simbólica, do heroísmo de quem acreditava em São Paulo”, diz Massafera.

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Bruno Santos/ Folhapress Evento da Sociedade de Veteranos da Revolução de 1932

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