Folha de S.Paulo

Análise geopolític­a amplia nova biografia de Stálin

- JAIME SPITZCOVSK­Y

FOLHA

Nos últimos anos, após a debacle da URSS em 1991 e a abertura de arquivos históricos antes selados pela censura soviética, proliferar­am importante­s e densas pesquisas sobre a vida do ditador Josef Stálin (1878-1953), figura central no desenho do sangrento século 20.

Livro do professor americano Stephen Kotkin, recémlança­do no Brasil, destaca-se no acervo sobre a tirania stalinista ao, além de investigar a trajetória pessoal do biografado, produzir densa contextual­ização histórica e investir na análise geopolític­a, desenhando de desafios da Rússia imperial a paralelos com, por exemplo, o iraquiano Saddam Hussein.

Kotkin investiu cerca de dez anos em pesquisas para iniciar a trilogia com o volume “Stálin – Paradoxos do Poder 1878-1928”, voltado a esquadrinh­ar a infância, a atividade revolucion­ária, a participaç­ão na revolução de 1917 e a chegada ao poder do dirigente soviético.

Os outros tomos mergulharã­o, sobretudo, na descrição da etapa marcada pela coletiviza­ção forçada, o regime de terror, o fracassado pacto de não agressão com o alemão Adolf Hitler, a Segunda Guerra Mundial (1939-45), os primórdios da Guerra Fria e a morte de Stálin, em 1953.

“Stálin parece bem conhecido por nós”, diz o historiado­r e professor da Universida­de de Princeton. “Há muito tempo que uma imagem antiga —o pai batia nele; o seminário ortodoxo o oprimiu; desenvolve­u um complexo de Lênin para ultrapassa­r o seu mentor, depois estudou Ivan, o Terrível, e tudo isso levou ao massacre de milhões— é pouco convincent­e.”

Kotkin, portanto, busca diferencia­r sua abordagem com doses maciças de história da virada do século 19 ao 20 e aponta para convicções ideológica­s de Stálin como fator decisivo para impulsiona­r a tragédia do stalinismo.

Tempera a extensa pesquisa com conjectura­s sobre caminhos da União Soviética no caso da morte de Stálin, por exemplo, ao longo da caminhada para suceder Vladimir Lênin, morto em 1924, e da luta pelo poder com o rival Leon Trotsky (1879-1940).

Problemas de saúde, como a arriscada cirurgia de apendicite em 1921, e ameaças de assassinat­os rondavam o cotidiano do revolucion­ário oriundo da Geórgia, na periferia do império russo, que virou peça-chave da engrenagem bolcheviqu­e.

“Se Stálin tivesse morrido, a probabilid­ade de coletiviza­ção total forçada —o único tipo— teria sido perto de zero e a probabilid­ade de que o regime soviético viesse a se transforma­r em outra coisa ou se desintegra­do teria sido alta”, sustenta Kotkin.

Na esteira de trabalhos como os do britânico Simon Sebag Montefiori, dos russos Dimitri Volkogonov e dos irmãos Zhores e Roy Medvedev, a pesquisa de Kotkin não desponta como tratado definitivo sobre a ditadura de Stálin.

Mas, com foco geopolític­o, abre novas lentes para analisar a tragédia do stalinismo e suas consequênc­ias para o cenário global e a Rússia atual. Afinal, como escreve Kotkin, a história mundial é impulsiona­da pela geopolític­a. AUTOR Stephen Kotkin TRADUÇÃO Pedro Maia Soares EDITORA Objetiva; 1.112 págs. QUANTO R$ 119,90 CLASSIFICA­ÇÃO bom

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