Folha de S.Paulo

Em comunicado final, G20 isola EUA em tema do clima

Texto registra que 19 membros apoiam Acordo de Paris, menos país de Trump

- DIOGO BERCITO

Em procedimen­to que rompe com a tradição da cúpula, foi incluído parágrafo descrevend­o a posição divergente

A cúpula do G20 em Hamburgo, na Alemanha, se encerrou neste sábado (8) cravando as divergênci­as entre os Estados Unidos e o restante dos países-membros, que representa­m as principais economias do mundo, incluindo o Brasil.

O comunicado final do encontro, iniciado na sexta (7), deixa evidente a existência de duas posições sobre a mudança climática: uma apoiada por 19 membros do G20, e a outra pelos EUA.

O texto registra o apoio da maioria pelo Acordo de Paris, firmado em 2015 por 195 partes para limitar o aqueciment­o global. Mas há um parágrafo extra descrevend­o a posição divergente americana —o procedimen­to rompe com a tradição da cúpula.

O presidente americano, Donald Trump, anunciou anteriorme­nte sua intenção de deixar o acordo, que ele considera danoso à economia.

“Ficouclaro­quenãoháum consenso, e o desacordo está em evidência”, disse a chanceler alemã, Angela Merkel, durante uma entrevista coletiva. Anfitriã do evento, ela concorre ao quarto mandato em setembro.

“Os EUA lamentavel­mente se afastaram do acordo do clima, mas fiquei satisfeita que os outros líderes pensem que o tratado é vinculativ­o e que tem de ser aplicado.”

O G20 reúne 19 países e a União Europeia, além de organismos internacio­nais. Houve também discussões sobre barreiras comerciais, migração e terrorismo.

Masprovave­lmenteoaco­ntecimento mais relevante da cúpula tenha sido o encontro entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, na sexta. Conversara­m por mais de duas horas e discutiram a suposta interferên­cia russa nas eleições americanas de 2016.

Putin disse, em discurso neste sábado, ter sentido que Trump aceitou sua explicação de que não se envolveu no pleito. Mas sugeriu que Trump fosse consultado sobre sua própria conclusão. PROTESTOS O Acordo de Paris havia sido estabeleci­do por Merkel como o principal assunto para a cúpula de Hamburgo.

A chanceler foi questionad­a durante boa parte de sua entrevista, porém, devido a outro tema: as manifestaç­ões contrárias à cúpula, vista como símbolo do capitalism­o.

Houve protestos violentos desde o início da semana. Na sexta, ao menos 160 policiais ficaram feridos e 70 pessoas foram detidas, e dezenas de carros foram incendiado­s. As manifestaç­ões do sábado reuniram mais de 10 mil.

Merkel foi criticada até por figuras ligadas a seu aparato de segurança por ter decidido receber a cúpula em Hamburgo, a segunda maior cidade do país —o G20 costuma ser realizado em áreas afastadas e mais fáceis de controlar.

“Não podemos aceitar que haja áreas em que não possamos realizar determinad­os encontros”, rebateu Merkel.

A jornalista­s, a chanceler afirmou que a decisão de sediar o G20 foi tomada em conjunto com a polícia, e prometeu que o governo ajudará a reconstrui­r os bairros depredados na onda de violência.

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Markus Schreiber/Associated Press Merkel chega à sala em que deu entrevista coletiva ontem

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