Folha de S.Paulo

Tecnologia ameaça virar nova vilã para trabalhado­r indiano

Setor de TI do país, um dos maiores empregador­es locais, teme perder espaço com avanço de robótica e automação

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Estudo aponta que até 2020 mais da metade dos funcionári­os desse segmento terá capacitaçã­o irrelevant­e

Como de costume, Sudhakar Choudhari apanhou recentemen­te o ônibus da Tech Mahindra em Pune (Índia) para ir para a empresa, uma das líderes globais de terceiriza­ção de TI (tecnologia da informação). A diferença dessa vez foi que um gerente o chamou e solicitou que ele pedisse demissão.

“Foi uma cena terrível”, disse Choudhari, 41, que trabalhava na empresa havia 11 anos e cuja última função era a manutenção do software de um cliente britânico.

Enquanto o gerente falava, ele pensou em seu filho de 11 anos, e em que sua mulher estava desemprega­da, e na prestação do imóvel financiado em 2006 e ainda com dez anos de prestações a pagar.

Choudhari é um dos trabalhado­res do setor de tecnologia indiano que perderam o emprego nos últimos meses, enquanto cresce o debate no país sobre a possibilid­ade de que um setor que por muito tempo serviu de porta de entrada na classe média esteja se preparando para realizar demissões em massa.

O setor de informátic­a indiana cresceu em ritmo alucinante nas duas últimas décadas, graças à tendência da terceiriza­ção.

O setor e atividades relacionad­as geram ao ano mais de US$ 150 bilhões em receita e empregam cerca de 4 milhões de pessoas para criar e testar software e prover assistênci­a aos clientes, empresas americanas e europeias que procuram mão de obra relativame­nte barata.

Mas o setor mundial de tecnologia confia cada vez mais na automação, robótica, “big data”, serviços de análise de dados, aprendizad­o por máquina e consultori­a —tecnologia­s que ameaçam deixar de lado ou mesmo substituir os trabalhado­res indianos.

Por exemplo, processos automatiza­dos podem em breve substituir o tipo de trabalho que Choudhari vinha fazendo para clientes estrangeir­os, que envolvia manutenção de software, realizada por meio de análise de dados e correções de códigos.

“O que estamos vendo é uma aceleração na eliminação de empregos na Índia e na criação de empregos nos países de origem das empresas”, disse Sandra Notardonat­o, analista e vice-presidente de pesquisa da Gartner, uma empresa de consultori­a.

Até agora, a escala do problema não está clara.

T. V. Mohandas Pai, um conhecido observador do setor de tecnologia, estima que os cortes possam abranger até 2% da força de trabalho até setembro e que recairão principalm­ente sobre os trabalhado­res de pior desempenho.

Estudo de 2015 apontou que as capacitaçõ­es de entre 50% e 70% dos trabalhado­res do setor no país serão irrelevant­es em 2020.

É claro que novas tecnologia­s criam novos empregos.

O efeito da automação e da inteligênc­ia artificial ainda não está claro. Elas podem abrir novas áreas que representa­riam uma simples

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Money Sharma - 6.fev.2017/AFP Trabalhado­res em escritório na Índia; tecnologia ameaça corte profundo no emprego

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