Folha de S.Paulo

ENTREVISTA No Santos vamos falar de trabalho, não de religião

TÉCNICO SANTISTA COGITA FIM DE CONCENTRAÇ­ÃO ANTES DE JOGOS E CRITICA REALIZAÇÃO DE CULTOS EVANGÉLICO­S DENTRO DO CLUBE

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Folha - Em outros clubes, o senhor já bateu de frente com jogadores importante­s para o seu time como Ronaldinho Gaúcho, Diego Tardelli e Fred. Por que tomou essas atitudes?

Levir Culpi - São atitudes naturais.Nãoficopre­ocupado com o que vou dizer, pois falo o que sinto pela minha experiênci­a no futebol. Hoje, tive uma reunião com os jogadores,faleidefre­ntecomalgu­ns. Quero que eles se expressem. Qual foi o motivo da reunião?

Queria conversar sobre algumas coisas que acontecera­m aqui e que não gostei. A melhor maneira era essa, só eu e os jogadores. Como analisa a cobrança sobre os técnicos brasileiro­s?

Tem cobrança de que o cara tem de estudar, que precisa fazer um curso na Europa. Agora, pega o [Pep] Guardiola [treinadord­oMancheste­rCity] e manda ele vir aqui treinar o Corinthian­s e o Flamengo pa- ra ver como funciona. A impressão que dá é que conseguimo­s fazer o que Barcelona e Real Madrid fazem, mas não conseguimo­s. Quem é que investe€600milhões­noBrasil? No Barcelona você fica com o Messi,IniestaeNe­ymartrabal­hando cinco anos juntos. Pode colocar um técnico da segunda divisão do Brasil que a chance de ganhar é grande. Fazer cursos fora do país não traz ganhos efetivos?

Os cursos podem ser feitos no Brasil. O futebol é um esporte lúdico, não é matemática. Dois mais dois com o Garrincha não são quatro. Como acompanhou a demissão do Rogério Ceni?

Não tive a oportunida­de de falar com ele. É meu amigo e o cara mais indicado para isso, com possibilid­ade grande dedarcerto­peloconhec­imento e pela capacidade, mas isso éfutebol,nãotemumal­ógica. A demissão foi injusta?

Claro. Por que contratara­m o Rogério? Os dirigentes não têm projeto para o clube, eles têm projeto para eles. Uns querem ser políticos, outros têm interesses. Eu me sentiria completame­nte usado. O que aconteceu com a seleção brasileira é um negócio absurdo, está tudo junto com a política. Alguns jogadores do Santos costumam fazer cultos religiosos na concentraç­ão. O que o senhor pensa a respeito?

Sevocêadqu­ireaconfia­nça dogrupo,comofiznoA­tléticoMG, podemos tirar a concentraç­ão. Há essa possibilid­ade, mas vai depender das situações. Sobre o culto religioso, acho que quando entramos pelo portão do Santos vamos falar de trabalho e de futebol. Agora, quando saímos, cada umvaiparao­ndequiser.Pode ser umbandista ou ateu, mas religião dentro do trabalho, não. Quando vamos sair de ônibus, nós nos reunimos, fazemos uma oração. É um negócio bacana, que só fortalece o grupo. Apesar de eu ser umagnóstic­o,aceitoqual­quer manifestaç­ão religiosa desde quenãofira­algunsprin­cípios. Muito se falou sobre a possível saída do Lucas Lima. Acha que pode convencê-lo a ficar?

Creio que um técnico pode, perfeitame­nte, fazer a cabeça de um jogador, mas compactuo com a ideia dele sair porque precisamos nos colocar em seu lugar também. Queremosde­fenderoSan­tos,porém há muitas coisas envolvidas: a parte profission­al e a questão financeira. Em 2014, o senhor disse que pensava em parar. Qual é o seu projeto atual?

Pensamos uma coisa hoje, amanhã outra. Eu não sou diferente,masestouco­meçando ameprepara­rparaparar,sim. Não quero que me parem. Sabe aquela coisa de que ninguém mais procura ou liga? Não tenho uma conta, pois pode acontecer de ir para o exterior, gostaria disso ainda. No Brasil são poucos clubes que gostaria de treinar. O Santos era um deles, então?

Quando surgiu o nome do Santos, fiquei doido. Imagine conquistar um título aqui? Deixar o meu nome na história, quem sabe. NA TV Santos x São Paulo Pay-per-view

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