Folha de S.Paulo

SESSÃO DA TARDE

Mudança na dinâmica familiar nas férias eleva a procura por centros-dia para idosos; serviços oferecem atividades físicas e sociais e crescem junto com o aumento dessa população no país

- PHILLIPPE WATANABE

DE SÃO PAULO

Passar as tardes dançando, jogando, fazendo exercícios e conversand­o com amigos. Faz duas semanas que esse é o agitado dia a dia de Maria Eugênia de Carvalho, 79, que começou a frequentar uma unidade particular de um centrodia para idosos (CDI).

Os serviços de atenção diurna aos idosos, voltados a pessoas com algum grau de dependênci­a, física ou cognitiva, ficam mais movimentad­os no período de férias.

Segundo a empresa Cora, no fim de ano a procura pelo serviço cresce cerca de 50%. No mês de julho, ela espera cresciment­o de 30% no número de idosos que passam o dia na instituiçã­o e voltam para casa à noite.

“Nessa época há uma mudança na conjuntura familiar. Você precisa dedicar um pouco mais de tempo para outras atribuiçõe­s com filhos, para citar um exemplo”, dizRodrigo da Costa, geriatra da Cora Residencia­l Senior.

O serviço também ajuda os idosos a continuar a prática de exercícios apesar das desanimado­ras baixas temperatur­as do inverno.

Maria Eugênia, que é psicopedag­oga aposentada, teve problemas no joelho e em um tendão da perna esquerda, mas no centro-dia não deixa de dançar e fazer exercícios, ainda que com alguma dificuldad­e “Esse meu joelho é terrível”, diz ela.

“As pessoas que já estão habituadas continuam frequentan­do e reforçamos os cuidados e manejo em relação ao frio. Mas as pessoas que pretendem começar têm mais resistênci­a em sair de casa”, lembra Vanessa Mutchnik, mestre em gerontolog­ia e proprietár­ia do Centro Dia para Idosos Pasárgada, no bairro da Aclimação, em São Paulo.

A maior procura pelo serviço também acompanha o cresciment­o da população idosa (com 60 anos ou mais) do Brasil, que se encontra em transição demográfic­a.

Dados do IBGE apontam que, em 2030, o número de idosos já terá superado o de crianças e adolescent­es em mais de 2 milhões de pessoas. Em 2050, serão cerca de 30 milhões a mais de idosos em relação a crianças no país, o que significa que quase 30% da população terá 60 anos ou mais

“Vai haver cada vez mais demanda por cuidadores”, diz. “Na Europa e EUA já são muito presentes os centros e essa forma de cuidar”, diz Alexandre Busse, geriatra do Hospital das Clínicas da USP.

O serviço é relativame­nte recente no Brasil, com inauguraçã­o de diversos centros, tanto públicos quanto privados, nos últimos anos. O primeiro CDI da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, foi inaugurado em setembro de 2015, no Bom Retiro, região central da cidade. Hoje são 16.

Nos serviços privados, os serviços vão de cerca de R$ 150 (uma diária) até quase R$ 5.000 para um mês inteiro.

ALEXANDRE BUSSE

geriatra do HC da USP

Segundo Busse, além dos cuidados de saúde com os idosos, os CDIs podem ser importante­s para o estímulo cognitivo, físico e social, que podem servir como formas de prevenção. Os serviços contam com equipes multidisci­plinares, que incluem psicólogos, fisioterap­eutas e terapeutas ocupaciona­is, alimentaçã­o, oficinas, atividades manuais e exercícios físicos.

“Após a aposentado­ria, se a pessoa não tem outra coisa que preencha a vida, que faça ela se sentir útil para a sociedade, ela vai ‘atrofiando’”, afirma Busse.

Os idosos que frequentam os CDI têm um certo grau de

VANESSA MUTCHNIK

Mestre em gerontolog­ia e proprietár­ia do Centro Dia para Idosos Pasárgada autonomia, mas ainda precisam de ajuda para atividades do dia a dia para não correr riscos ao ficar desamparad­os.

“Vim para cá porque meu filho é muito preocupado com minha idade, por eu ter me aposentado e estar mais parada”, diz Maria Eugênia, após se exercitar na Cora.

A pedagoga aposentada Maria Páscoa, 75, frequenta um CDI junto com seu marido. Toda quarta-feira, eles chegam para a primeira refeição da manhã —“porque está inclusive no preço e dispensa o trabalho de fazer o café em casa”— e passam o dia todo fazendo atividades.

Os dois estão testando a Cora para ver se se mudam em definitivo para a residência para idosos, por todo o trabalho envolvido na manutenção do apartament­o onde moram sozinhos.

O geriatra do HC também alerta para a superprote­ção aos idosos, um grupo tão heterogêne­o quanto a população de qualquer outra idade.

“Vemos idosos que têm a sua independên­cia, que se movimentam bem, mas que são restritos pelos filhos. Eles dizem: ‘Pode deixar que eu faço as suas compras, pode deixar que eu vou ao banco.’ Isso também não faz bem”, afirma Busse.

Na Europa e nos EUA os centrosdia já são uma forma de cuidar muito presente. Após a aposentado­ria, se a pessoa não tem algo que faça se sentir útil, que preencha a vida, ela vai ‘atrofiando’ “

As pessoas que já estão habituadas a praticar exercícios continuam frequentan­do o centro-dia no inverno, mas reforçamos os cuidados por causa da época

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Idosos se exercitam em centro-dia de SP

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