Folha de S.Paulo

Amigos do autor, entre eles artistas contemporâ­neos como Lawrence Weiner, conversam sobre sua vida e obra literária.

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PORCOS E VACAS Deuses reencarnad­os, seus corpos meio em putrefação, rondam a mesa, que tem como prato principal um leitão também em estado avançado de decomposiç­ão.

Barney, que fez da estética do choque e do grotesco uma espécie de marca, foi brutal até com seus atores, forçando o elenco a contracena­r com o bicho morto de verdade. A vaca, de onde sai o filho de Mailer, que vive o próprio pai no filme, também era real.

“Meu trabalho tem a ver com a ideia de equilibrar real e artificial, então ter essas coisas no set era um obstáculo de verdade, que exige que todos deixem de lado qualquer maneirismo”, diz o artista. “Isso traz outra dinâmica para os atores, faz com que eles repensem sua atuação.”

Esse dado de realidade também está nas sequências mais impression­antes de “River of Fundament”, como o momento em que quantidade­s industriai­s de ferro fundido são derramadas numa fôrma enorme.

Barney filmou essas cenas mais espetacula­res como performanc­es orquestrad­as em tempo real diante de plateias em Los Angeles, Nova York e Detroit. As câmeras foram escondidas, para não desviar a atenção dos espectador­es.

Ele conta que o fato de ter realizado outro filme em pleno Carnaval de Salvador —com um ator pelado penetrando as engrenagen­s de um trator— serviu de preparo para o novo projeto quase hollywoodi­ano em escala.

“Sou um artista inquieto, estou sempre mudando meus hábitos”, diz Barney. “Obras de arte são vistas só como imagens, então queria criar uma situação que dependesse da experiênci­a de estar ali. Isso deu sentido de urgência e perigo ao filme. É meu jeito de extrair uma forma da ação.”

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