Folha de S.Paulo

O preço da crise e o parlamenta­rismo

Não vejo o parlamenta­rismo como solução para a crise, mas como fator de estabilida­de e governabil­idade a longo prazo

- TASSO JEREISSATI (São Caetano do Sul, SP)

Não basta constatar a evidente falência do sistema político brasileiro. É preciso buscar as razões desta e apontar novos caminhos.

Entendo que o “presidenci­alismo de cooptação”, que tem sido a marca de nossa história republican­a, está na raiz do problema. Esse modelo, que se fortaleceu ao longo de décadas e hoje atinge o paroxismo, condiciona o grau de governabil­idade de um presidente da República ao apoio de uma base parlamenta­r, cada vez mais exigente por cargos e favores.

Uma das distorções geradas por esse modelo é a quantidade de partidos que se formam com o fim exclusivo de abocanhar parte desse bolo, seja em termos de fundo partidário, seja em busca de espaço nos governos. Sem nenhuma identifica­ção ideológica, amontoam-se em blocos parlamenta­res, em busca de nacos de poder em troca do seu apoio.

Para manter a governabil­idade, ministério­s, órgãos e estatais são entregues a partidos diversos, que muito raramente têm interesse em trabalhar em conjunto. A fragmentaç­ão e a descontinu­idade das políticas públicas daí decorrente­s geram ineficiênc­ia e desperdíci­o, sem falar na ampla margem para corrupção decorrente dessa troca de favores e interesses.

Ao contrário do que comumente se afirma, na correlação entre os poderes não é o Executivo que está hipertrofi­ado. O que existe é uma enorme desproporc­ionalidade entre o efetivo poder da base parlamenta­r que sustenta um governo e o grau de sua responsabi­lização. Assim, o Parlamento impõe suas vontades ao governo, mas não é responsabi­lizado pelos erros daí decorrente­s.

O impeachmen­t de Dilma Rousseff é um exemplo claro disso. Independen­temente dos crimes de responsabi­lidade que tenha cometido, Dilma caiu porque não teve mais condições de sustentar essa base fisiológic­a. Se a presidente caiu pelo “conjunto da obra”, muitos dos que contribuír­am para o desastre estavam ali a pedir sua cabeça.

Penso que neste momento de crise é essencial rediscutir­mos todo esse modelo, trazendo inclusive o debate sobre o parlamenta­rismo. Esse é o regime adotado em quase todo o mundo desenvolvi­do, garantidor da estabilida­de nas democracia­s modernas.

Lembro que temos uma tradição parlamenta­rista, desde os tempos coloniais. A longevidad­e do Império não foi fruto do totalitari­smo ou da falta de democracia. As muitas crises daquela época foram superadas por arranjos internos entre as forças políticas de então, submetidas às regras do parlamenta­rismo.

Também não podemos ceder ao falso axioma de que, sendo as crises inexorávei­s, devem ser considerad­as como preço que devemos pagar pela democracia. Esse preço é incalculáv­el na medida em que paralisa a economia e divide a sociedade. O parlamenta­rismo pode reduzir esse preço.

Ninguém pode questionar o fato de que, ao longo de mais de cem anos de presidenci­alismo, foram pouquíssim­os os presidente­s que terminaram seu mandato. Estou sendo testemunha do terceiro processo de impeachmen­t desde a redemocrat­ização Não vejo o parlamenta­rismo como solução para a crise, mas como fator de estabilida­de e governabil­idade a longo prazo. É claro que teremos de chegar a um parlamenta­rismo à brasileira, consideran­do nossas particular­idades, de um país continenta­l com uma cultura política diferencia­da. Mas acredito que podemos chegar a uma fórmula capaz de nos fazer superar crises sem tantos traumas, que têm nos feito ficar estancados no atraso econômico e incapacita­dos de solucionar problemas que assim se agigantam.

A verdadeira reforma política passa por esse tema. Algo mais efetivo do que os remendos feitos até hoje. Por enquanto, é como se estivéssem­os continuame­nte apenas trocando peças de um carro velho, que, de pane em pane, insiste em não nos deixar chegar ao nosso destino. TASSO JEREISSATI,

Estou muito triste e muito feliz. Triste ao ver um ex-presidente eleito e reeleito ser condenado por crimes contra o Brasil. Um ex-presidente transforma­do em criminoso comum é algo triste e vergonhoso para qualquer país. O Brasil inteiro fica vexado. Porém estou feliz porque a lei começa a alcançar quem tanto mal fez. A sentença não irá reparar o mal, mas servirá de alerta para futuros oportunist­as e bandoleiro­s que pretendam ocupar a Presidênci­a.

FLAVIO TORRES

Sentença sem fundamenta­ção jurídica. Não há uma única prova de propriedad­e do imóvel. Juiz parcial e político. O mesmo que não aceitou que Cunha fizesse perguntas a Temer, agora envolvido em esquemas suspeitos. A condenação vai cair em segunda instância e esse juiz será desmoraliz­ado por sua parcialida­de.

BIANCA MIRANDA

Já havia dito que a solução política para o Brasil, neste momento, seria a condenação e a prisão de Lula. A repercussã­o nacional e internacio­nal da sentença é capaz de abafar a crise política, fazendonos esquecer as malas de dinheiro e o suposto envolvimen­to do presidente Michel Temer. Lula é a salvação nacional!

SÉRGIO MORADEI DE GOUVÊA

É bom que o mundo saiba: o mais importante no ser humano não é seu nome ou seu status, mas a sua dignidade e o seu respeito para com o seu país. Lula agora sabe disso. Que aprenda a lição!

ALCINO CAETANO DE SOUZA

Como ex-dirigente sindical, faço meu protesto e registro minha indignação pela aprovação da reforma trabalhist­a. Só nós sabemos como foi difícil obter as conquistas dessas últimas décadas. E, agora, numa simples canetada, tudo jogado no lixo. Lamentável!

FRANCISCO STANGUINI

Governo encurralad­o Sai Temer, entra Rodrigo Maia. Forma-se um governo “carioca”—Moreira Franco, Sergio Zveiter etc.— e penduramse os débitos e falcatruas do Rio de Janeiro no Tesouro Nacional. “Só os profetas enxergam o óbvio”, disse Nelson Rodrigues.

LUIZ GROFF

Geddel Vieira Lima Gamil Föppel, advogado de Geddel, começa mal, pedindo que o leitor “dispa-se de seus preconceit­os” antes de ler o resto do texto. O certo seria “dispa-se de seus princípios”, como ele deve fazer ao aceitar seus clientes (“Em defesa de Geddel Vieira Lima”, Tendências/Debates, 12/7).

LUIZ CARLOS DE SOUZA

Se a função do jornal é formar e informar os leitores, qual o objetivo de, na cobertura das investigaç­ões criminais, ouvir os advogados dos acusados ou abrir as colunas para que se manifestem? Suas opiniões são direcionad­as não para o esclarecim­ento, mas para a defesa de seus clientes. Fazem uso de qualquer artifício, distorcend­o os fatos.

ANTONIO CARLOS RAMOZZI

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