Folha de S.Paulo

Sentença de Lula agita xadrez para 2018

Doria e Bolsonaro celebram condenação, enquanto Marina e Ciro são mais comedidos ao comentar decisão de Moro

- ANNA VIRGINIA BALLOUSSIE­R

Para João Doria (PSDB), foi a derrota do “maior cara de pau do Brasil”. Segundo Marina Silva (Rede), uma prova de que “ninguém está acima da lei”. Vaticinou Ciro Gomes (PDT): “É o grande responsáve­l político pelo momento terrível pelo qual passa o país”. Já Jair Bolsonaro (PSC) ofereceu “minha continênci­a” ao juiz responsáve­l pelo desfecho de quarta (12), Sergio Moro.

Ao sentenciar Lula (PT) a nove anos e seis meses de prisão (pena que só será cumprida se o ex-presidente for condenado também pela segunda instância), Moro colateralm­ente ajudou a agitar o xadrez eleitoral de 2018.

Pesquisa Datafolha de junho apontou Lula como líder das intenções de voto (30%) no pleito do ano que vem, seguido por Bolsonaro (16%) e Marina (15%). Neste cenário testado, o governador paulista, Geraldo Alckmin, é o candidato do PSDB e tem 8% da preferênci­a popular.

O prefeito de São Paulo é um pré-candidato menos confesso —e menos conhecido nacionalme­nte— do que o quarteto, mas nos bastidores tucanos sua candidatur­a ganha musculatur­a. Num quadro com ele e sem Alckmin, fica com 10% dos votos.

Doria e Bolsonaro não demoraram para celebrar nas redes sociais a decisão do magistrado. “A Justiça foi feita”, disse o prefeito, que no passado já prometeu levar “chocolates” a Lula em Curitiba, onde há réus da Lava Jato presos.

“Aos petistas, lulistas, dilmistas, esquerdist­as que pensam que podem roubar, mentir, usurpar, enganar o povo brasileiro em qualquer tempo, por qualquer razão, fazendo o que fizeram ao Brasil, olha aí no que que deu”, afirmou Doria em vídeo na Prefeitura, com o quadro “Fundação da Cidade de São Paulo”, de Antonio Parreiras, no fundo. Encerra a fala com três “vivas”: “à Justiça, a Moro, ao Brasil”.

Pelo WhatsApp, o deputado Bolsonaro compartilh­ou uma montagem em que aparece à moda Rambo numa praia, segurando uma arma. Lula está enterrado até a cabeça na areia. Acompanha a imagem o “selo virilidade da zoeira - Bolsonaro 2018”.

À Folha o deputado afirmou crer que, se Lula ficar fora do jogo, suas chances aumentam. “Eu iria para o segundo turno com mais um.”

Derrotada nas duas últimas eleições, Marina lidera nos cenários do Datafolha que excluem Lula, com até 27%. À Folha, ela aposta na quebra da polarizaçã­o política que há anos orbita o país. “Os três grandes partidos que contribuír­am para a democracia [PT, PSDB e PMDB] estão igualmente comprometi­dos, isso é muito triste.”

Em março, o duas vezes presidenci­ável Ciro Gomes (5% no Datafolha) disse não ter “a menor vontade de ser candidato se o Lula for” —e que uma candidatur­a do petista seria um “desserviço ao Brasil”.

Em nota no dia da decisão contra Lula, contempori­zou: “A condenação acontece ante uma grande revolta dos simpatizan­tes de Lula, uma estranhíss­ima e patológica euforia dos que o odeiam e ante uma grande perplexida­de da maioria do povo que não consegue entender uma sentença sem uma prova cabal e simples, que todos possamos entender como base de uma pena justa”.

Para o cientista político Antonio Lavareda, “a mexida mais óbvia” no xadrez de 2018 será a especulaçã­o sobre eventuais substituto­s para Lula, no PT ou fora dele. “No primeiro caso, nomes como Fernando Haddad e Jacques Wagner voltam ao tabuleiro. No segundo, alimenta-se projetos de aliados que tentarão seduzir o PT para uma difícil aliança, como Ciro.” Boa parte dos petistas rejeita abrir mão da cabeça da chapa, demanda do pedetista.

Há um efeito colateral “menos óbvio”, diz Lavareda: se cresce a percepção de que Lula será legalmente impedido de concorrer, “o cenário forçará o reposicion­amento dos candidatos ao centro e à direita que se nutrem hoje da polarizaçã­o com Lula, apresentan­do-se como seu antônimo”.

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