‘Visão do país não combina com sistema democrático’
Em discurso, Temer comete nova gafe ao falar sobre a evolução da questão federativa no Brasil
O presidente Michel Temer disse nesta quarta-feira (12) que há uma vocação centralizadora no povo brasileiro e, ao se referir ao golpe militar de 1964, afirmou que a população “gosta de que tenha um organismo que comande tudo”. Segundo ele, a visão no país não é compatível com a descentralização e com o sistema democrático.
A avaliação foi feita em discurso sobre a evolução da questão federativa que, segundo ele, sempre foi “falsa” e “capenga”, e se seguiu à menção da “absoluta centralização” dos anos Vargas.
“Veio 1964 e foi a vocação centralizadora do povo brasileiro. O povo gosta de que tenha um organismo que comande tudo, essa é a nossa realidade. A nossa visão não é compatível com a descentralização e com o sistema democrático, especialmente no que se paute pela absoluta obediência à ordem jurídica”.
Ele afirmou ainda que, desde que assumiu o Planalto, houve “tumultos dos mais variados” e ressaltou que, na história do país, a cada 30 anos, há reivindicação pela criação de um novo governo e de uma nova Constituição.
“E agora aquela coisa extraordinária do desprezo absoluto às instituições renasce de uma força estupenda e todos começam a dizer que temos de mudar. Isso é muito ruim para o nosso país.”
Nesta quarta, a CCJ (Comis- são de Constituição e Justiça) da Câmara começou a discutir o relatório favorável à autorização para que o Supremo Tribunal Federal analise a denúncia de que Temer cometeu corrupção passiva em seu mandato. A expectativa é a de que o colegiado vote o parecer quinta ou sexta.
O governo prosseguiu em sua maratona de trocas de parlamentares para assegurar a vitória na comissão. Fez três novas substituições e retirou da comissão inclusive o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que foi ministro da Justiça do presidente por pouco mais de dois meses.
“Estamos marcando uma posição partidária”, disse o presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR).
O PP, que também integra a base aliada de Temer, decidiu substituir o deputado Esperidião Amin (SC).
Ao todo, já foram feitas mais de 20 substituições. A comissão tem 66 integrantes. Caso todos estejam presentes, é preciso 34 votos para aprovação ou rejeição do parecer. Qualquer que seja o resultado, a palavra final cabe ao plenário da Câmara. O STF só será autorizado a analisar a denúncia com o voto de pelo menos 342 dos 513 deputados.
Também nesta quarta quatro partidos da base governista fecharam apoio à derrubada da denúncia e determinaram que os 185 deputados de suas bancadas votem a favor do presidente na Câmara —número que seria suficiente para barrar a abertura de um processo criminal.
PMDB, PP, PR e PSD aprovaram fechamento de questão, o que força seus parlamentares a votarem de acordo com a cúpula partidária. (GUSTAVO URIBE, MAELI PRADO, BRUNO BOGHOSSIAN, DANIEL CARVALHO, ANGELA BOLDRINI E LUIZA FRANCO)