Folha de S.Paulo

No Senado, Dodge critica vazamentos

Escolhida por Temer para suceder Rodrigo Janot, subprocura­dora teve nome aprovado pela Casa após sabatina

- REYNALDO TUROLLO JR. TALITA FERNANDES

Nova chefe da PGR defendeu edição de lei de abuso de autoridade, mas exaltou combate à corrupção e delações

Em sabatina no Senado nesta quarta (12), a subprocura­dora-geral da República Raquel Dodge, aprovada para comandar a Procurador­iaGeral da República, prometeu priorizar o combate à corrupção e defendeu as delações premiadas.

Ao mesmo tempo, ela criticou conduções coercitiva­s, vazamentos de informação e defendeu a edição de uma nova lei contra o abuso de autoridade.

Dodge teve 74 votos favoráveis no plenário da Casa, um contrário e uma abstenção. Antes, ao ser sabatinada na Comissão de Constituiç­ão e Justiça por cerca de oito horas, foi aprovada por unanimidad­e pelos 27 membros do colegiado —um feito inédito.

Segunda colocada na lista tríplice entregue por procurador­es ao presidente Michel Temer, Dodge foi escolhida para substituir o atual procurador-geral Rodrigo Janot, cujo mandato termina em 17 de setembro.

Aos 55 anos, quase 30 deles no Ministério Público Federal, Dodge é natural de Morrinhos (GO), tem experiênci­a na área criminal, graduou-se na Universida­de de Brasília e é mestre em direito pela Universida­de Harvard, nos Estados Unidos.

A sabatina teve clima ameno, diferente de 2015, quando Janot foi sabatinado e reconduzid­o à PGR num clima de tensão, dias depois de ter apresentad­o as primeiras denúncias contra parlamenta­res na Lava Jato.

Dodge falou sobre buscar um “caminho do entendi- mento” e prometeu atuar com “serenidade” e respeito aos direitos dos investigad­os, como o do princípio da presunção da inocência.

Nesse contexto, por exemplo, ela defendeu um controle maior sobre a divulgação de informaçõe­s sigilosas durante as investigaç­ões.

“É cada vez mais necessário que a atuação do Ministério Público, de partida, seja calcada em provas mais coerentes [...] para que a dúvida não desonre a dignidade da pessoa enquanto não haja condenação”, disse.

Várias declaraçõe­s foram vistas como contrapont­o à atuação de Janot —a quem ela faz oposição na instituiçã­o.

Em meio à Operação Lava Jato, a relação entre Janot e políticos investigad­os tornouse tensa. Em 2015, ele foi re- conduzido à PGR com os votos favoráveis de 59 senadores e 12 contrários.

Nem mesmo a oposição queixou-se na sabatina sobre a indicação da segunda colocada na lista tríplice —desde 2003, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, os presidente­s da República vinham indicando o nome mais votado pelos procurador­es.

Perguntas sobre temas es- pinhosos, feitas no início pelo relator de sua indicação na CCJ, o senador Roberto Rocha (PSB-MA), deram lugar a elogios a Dodge.

Ela foi reverencia­da por ser a primeira mulher indicada à PGR, por ter conduzido a Operação Caixa de Pandora no Distrito Federal, em 2009, que levou à prisão de José Roberto Arruda, e ter atuado na condenação do ex-deputado acriano Hildebrand­o Pascoal, na década de 1990. POSIÇÕES “A lei de abuso de autoridade vem no socorro da ideia de que, no regime democrátic­o, controles são necessário­s, inclusive sobre os órgãos de administra­ção de Justiça”, disse Dodge sobre um tema caro aos parlamenta­res.

“Nenhuma instituiçã­o é imune a erros. E nessa perspectiv­a de que seja dada ampla autonomia […] para juízes e membros do Ministério Público, mas contidos os excessos, é que vejo a importânci­a de se aprovar uma lei que controle o abuso de autoridade.”

Questionad­a sobre um suposto “Estado policial” instalado no país, Dodge disse que o limite da atuação da Procurador­ia é a lei.

Sem mencionar o caso da JBS diretament­e, Dodge respondeu que gravações feitas por um interlocut­or sem que o outro saiba são aceitas como prova lícita pelo Supremo. A defesa do presidente Temer questiona o acordo da empresa por ter partido de gravações dessa natureza.

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Pedro Ladeira/Folhapress A subprocura­dora Raquel Dodge, que foi aprovada pelo Senado como sucessora de Rodrigo Janot no comando da PGR

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