Folha de S.Paulo

Mérito da reforma é reduzir inseguranç­a, dizem analistas

Expectativ­a é que nova legislação diminua litígios e informalid­ade, mas não seja suficiente para criar empregos

- FLAVIA LIMA

A reforma trabalhist­a não terá o condão de gerar empregos, mas pode reduzir a informalid­ade, trazer mais segurança jurídica às empresas e diminuir um fluxo de cerca de 4 milhões de processos por ano na Justiça do Trabalho, avaliam especialis­tas.

Há, no entanto, questionam­entos sobre a conveniênc­ia de dar aos acordos coletivos força de lei (o negociado sobre o legislado), em um momento em que os sindicatos podem perder força.

E também a percepção de que a nova regra pode ter privilegia­do o custo do trabalho em detrimento de outras questões também cruciais ao cresciment­o econômico, como a produtivid­ade.

“A reforma não tem a ambição de gerar emprego, embora o governo diga que sim”, diz Hélio Zylberstaj­n, professor da FEA/USP. “Emprego vem com cresciment­o.”

A mudança, diz, é fundamenta­l, não reduz direitos e pode ajudar a reduzir a informalid­ade no mercado.

Empregados de setores como o de construção civil ou de eventos já desempenha­m suas funções por algumas horas ou dias na semana, mas o fazem na informalid­ade.

A reforma regulariza esse tipo de contrato, chamado de intermiten­te, atrelando-o a benefícios trabalhist­as.

Há ainda uma percepção de que a reforma deve trazer mais segurança às empresas que buscam inovações nas relações de trabalho e acabam barradas pela Justiça.

“Na questão da terceiriza­ção, a reforma regula uma lei capenga e ainda exige os mesmos benefícios de funcionári­os aos terceiriza­dos”, afirma Raíssa Bressanim, advogada e professora de direito do trabalho do Insper.

Ela diz que, em algumas empresas que têm como clientes, funcionári­os já manifestar­am o desejo de ter a hora de almoço reduzida se pudessem deixar o trabalho mais cedo —possibilid­ade vetada na legislação atual e incluída nas mudanças.

A advogada ressalta também a negociação direta entre empresas e empregados com salários mais altos.

“Isso pode estimular as câmaras de arbitragem”, diz.

José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos, afirma que a demanda pela Justiça do Trabalho vai diminuir —hoje, há um estoque de cerca de 18 milhões de processos.

Ele vê ainda queda no custo do trabalho, pois a nova regra impõe mais limites à atuação dos tribunais.

“A nova regra traz aumentos dos investimen­tos e mais cresciment­o econômico”, diz. AJUSTES Bressanim vê contradiçõ­es no estímulo aos acordos coletivos, ao mesmo tempo em que se mexe com sindicatos.

“O fim da contribuiç­ão sindical obrigatóri­a reduz a força dos sindicatos, logo o negociado sobre o legislado exige período de acomodação.”

A advogada também diz que é cedo para falar em queda no número de processos trabalhist­as justamente porque as dúvidas sobre a reforma devem acabar na Justiça.

Para Claudio Dedecca, professor da Unicamp, em alguns anos o empresaria­do pedirá outra reforma, à medida que os ganhos com a queda do custo do trabalho forem consumidos pela falta de produtivid­ade.

Para José Roberto Afonso, do Ibre/FGV, a reforma traz o risco de prejudicar mais as contas da Previdênci­a, com a regulariza­ção de contratos de autônomos. Mais barata do que o emprego em carteira para o contratant­e, essa modalidade de trabalho tem menores alíquotas de contribuiç­ão previdenci­ária.

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